O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Os Brasileiros na Europa - (03.11.2010)

 Esse disco é resultado de uma iniciativa rara no Brasil. A história começa com Humberto Teixeira, o famoso parceiro de Luiz Gonzaga. Na década de 1950, ele se elegeu Deputado Federal (inclusive o próprio Luiz Gonzaga ajudou na campanha) pelo Ceará. No Congresso, sua atuação manteve estreita relação com a música. A lei mais importante que ele aprovou, que está em vigor até hoje, foi uma alteração do Código Civil que, efetivamente, se transformou na Lei do Direito Autoral no Brasil (Lei no 3447, de 1957). A outra lei que Humberto Teixeira criou leva seu nome. Vários livros fazem referência a essa lei, mas nunca falam seu número e ano. Acredito que não seja possível encontrar seu texto (talvez apenas nos alfarrábios do Congresso Federal). Na página da Câmara dos Deputados, aparece o Projeto de Lei que teria dado origem a ela (Projeto de Lei n. 1544, de 1956, cuja ementa é “Determina a inclusão, na Lei Orçamentária, de auxílio para a União Brasileira de Compositores e para a Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Editores de Música, em regime de acordo com o Ministério da educação e cultura). Na página, está dito que o Projeto de Lei foi arquivado, ou seja, não foi convertido em Lei. Mas os livros dizem que essa lei existiu, e destinou recursos para a divulgação da música brasileira no exterior. A forma como essa divulgação foi feita é que tem a ver com esse disco: o governo federal liberava, então, recursos para que, anualmente, uma caravana de músicos brasileiros excursionasse pela Europa. O grupo “Os Brasileiros” foi formado especialmente para esse fim, e foi a primeira caravana que foi à Europa pela Lei Humberto Teixeira. Os Brasileiros é um nome modesto, porque, pela formação do grupo, ele poderia se chamar Alguns dos Melhores Brasileiros. Faziam parte do grupo: Trio Irakitan, Sivuca, Abel Ferreira, Pernambuco, Dimas e Guio de Moraes. O intrépido grupo se apresentou no Olympia de Paris, no London Palladium e na Exposição Internacional de Bruxelas. Foi justamente esse trabalho que deu origem ao disco “Os Brasileiros na Europa”, lançado pela gravadora Odeon. Nos anos seguintes, outras caravanas foram para o exterior, mas, segundo os livros, a Lei Humberto Teixeira foi revogada em 1964, com o regime militar. Poucas vezes na história desse país houve um esforço oficial para a divulgação da música brasileira no exterior. Os resultados desse tipo de iniciativa são sempre muito benéficos. Por exemplo, a ida dos Oito Batutas para a França, na década de 1920, foi um dos episódios mais importantes da vida de Pixinguinha, que é, sem dúvida, um dos músicos mais importantes do Brasil. A ida dOs Brasileiros para a Europa divulgou o baião, o samba, o choro em vários países, principalmente a França, país que, até os dias de hoje, tem uma profunda identificação com esses gêneros brasileiros. O repertório do disco, como se vê, é composto por hits dos ritmos brasileiros, como Maracangalha e Brasileirinho. Tem também músicas do Humberto Teixeira, que era o dono do projeto grande compositor. Há duas músicas também que fazem referência à música brasileira no exterior: O Baião em Paris, de Humberto Teixeira e Zezé, também dele. Esta última é interessantíssima, porque ela é cantada em 4 idiomas: português, inglês, espanhol, francês e italiano (nessa ordem). Observem que a ordem dos idiomas, exceto o português, que é o de origem da música, segue também a ordem dos países na hierarquia global de poder, demonstrando que nossos melhores músicos também entendem de geopolítica. Bobagens à parte, o disco é muito bom, principalmente pela qualidade dos músicos.


Face A

1-     Maracangalha – Samba (Dorival Caymmi)
2-     Brasileirinho-Chôro (Waldir Azevedo)
3-     A fonte secou – Samba (Monsueto C. Menezes-Tufic Luar-Marcléo)
4-    Carrapicho – Baião (Humberto Teixeira)
5-     No paraiso das mulatas – Choro (Guio de Morais)
6-     Vai na paz de Deus – Samba (Athaulpho Alves-Antônio Domingues)

Face B

1-      Nêga – Samba (Waldemar Gomes-Afonso Teixeira)
2-     Vai com jeito – Samba (João de Barro)
3-     O baião em Paris – Baião (Humberto Teixeira)
4-     Zezé – Baião (Humberto Teixeira-Caribé da Rocha)
5-     Mulata, mulata – Samba (Roberto Martins-Jair Amorim)
6-     Fantasia carioca – Samba (Oswaldo Santiago-Alcyr Pires Vermel)

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