O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Orquestra Armorial Vol.4 (29/12/2010)

 O Movimento Armorial foi uma das iniciativas mais interessantes em termos de proteção e valorização da cultura popular. O movimento Armorial foi antecedido por outros movimentos de teor semelhante. Foram eles: a Escola do Recife (final do séc. XIX e início do XX), o Movimento Regionalista de 1926, a Sociedade de Arte Moderna do Recife, em 1948, e o Movimento de Cultura Popular em 1961. O Movimento Armorial encontra raízes também na Semana de Arte Moderna de 1922. Os fundadores do Movimento Armorial são Ariano Suassuna e Cussy de Almeida. Ele foi iniciado oficialmente no dia 18 de outubro de 1970, com a Orquestra Armorial de Câmara. Ariano Suassuna, explica o nome “Armorial” da seguinte forma:
“Em nosso idioma, “armorial” é somente substantivo. Passei a empregá-lo também como adjetivo. Primeiro, porque é um belo nome. Depois, porque é ligado aos esmaltes da Heráldica, limpos, nítidos, pintados sobre metal, ou por outro lado, esculpidos em pedra, com animais fabulosos, cercados por folhagens, sóis, luas e estrelas. Foi aí que, meio sério, meio brincando, comecei a dizer que tal poema ou tal estandarte de cavalhada era “armorial”, isto é, brilhava em esmaltes puros, festivos, nítidos, metálicos e coloridos, como uma bandeira, um brasão ou um toque de clarim. Lembrei-me, aí, também, das pedras armoriais dos portões e frontadas do Barroco brasileiro, e passei a estender o nome à Escultura com a qual sonhava para o Nordeste. Descobri que o nome “armorial” servia, ainda, para qualificar os “cantares” do Romanceiro, os toques de viola e rabeca dos Cantadores- toques ásperos, arcaicos, acerados como gumes de faca-de-ponta, lembrando o clavicórdio e a viola-de-arco da nossa Música barroca do século XVIII (Fonte: Suassuna, 1974, O Movimento Armorial. Recife, Universidade Federal de Pernambuco, Ed. Universitária, 1974; p.9)”.

O Movimento abarca uma série de manifestações artísticas, como pintura, música, literatura, cerâmica, dança, escultura, tapeçaria, arquitetura, teatro, gravura e cinema. Para Ariano Suassuna, o folheto de cordel é a arte que consegue sintetizar todo o movimento, porque possui três tipos de arte ligadas a ele: a arte plástica, que é a xilogravura da capa; a literatura e a música, porque o cordel pode ser um canto, acompanhado de viola ou rabeca.
Na música, o Movimento tem expressão nas obras de Antonio José Madureira, Clóvis Pereira, Cussy de Almeida e Jarbas Maciel. Também aderiram ao movimento:  Capiba,
Guerra Peixe, Marlos Nobre e Camargo Guarnieri. Com a ajuda do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco, Ariano trazia, do interior do estado, rabequeiros, violeiros e ternos de pífanos, e, a partir deles, eram selecionados os temas que serviriam de inspiração para a Orquestra Armorial. Os temas eram estudados, alterados, e então gravados. Por ser formação orquestral, e pelo método de composição utilizado, a música armorial se aproxima da música erudita. Mas, se levados em consideração a origem dos sons, a própria instrumentação e os temas tocados, ela é muito mais próxima da música popular nordestina. No fundo, não é popular nem erudita, é armorial, um modo de fazer música único, autêntico e belo.
A Orquestra Armorial de Câmara é uma das primeiras expressões do Movimento Armorial. O seu concerto inaugural foi no dia 21 de agosto de 1970 (meses antes da inauguração oficial do movimento. A Orquestra era vinculada ao Conservatório Pernambucano de Música. Era regida por Cussy de Almeida e tinha como spalla o chileno Rafael Garcia. Sua formação se inspirou no terno de Mestre Ovídio, composto de dois pífanos e duas rabecas. A Orquestra tinha, então, duas flautas, representando os dois pífanos do terno, um violino e uma viola de arco, representando as rabecas e a zabumba.
Mas houve uma cisão no Movimento Armorial, deflagrada por um desentendimento entre seus fundadores, Ariano Suassuna e Cussy de Almeida. Suassuna sempre desejou que a Orquestra tivesse instrumentos realmente populares, como pífano e rabeca, e Cussy resistia a isso, argumentando que os instrumentos eruditos davam mais uniformidade à música, principalmente porque possuem afinação mais precisa. Então, Ariano fundou o Quinteto Armorial, e Cussy seguiu com a Orquestra Armorial. Esse disco, gravado em 1979, traz a concepção dele do Movimento Armorial; então, ele tem um som bem orquestral. Destaco a faixa 1 do lado B, Mulher Rendeira.


Lado 1

1-      Asa Branca (Luiz Gonzaga-Humberto Teixeira)
Versão orquestral Cussy de Almeida
2-     Glória (Cussy de Almeida)
3-     Dança de índios (Waldemar de Almeida)
Versão orquestral de Duda e Cussy de Almeida
4-    Galope de cavalhada (José T. de Amorim)
Versão orquestral de Duda

Lado B

1-   Mulher rendeira (D.P) 
Versão orquestral de Radamés Gnatalli especial para Orquestra Armorial.
2-  Cirandância (Marcus Accioly-Cussy de Almeida)
          3-  Galope a beira-mar (José T. de Amorim)
Versão orquestral de Duda
4-  Mandacaru (Henrique Annes-B. Wolkoff)

2 comentários:

Ricardo Moreno de Melo disse...

Mais uma vez parabenizo pelo belo trabalho desenvolvido neste blog. Grande abraço!

Paulo Horta disse...

Realmente um grande disco, cuja postagem merece os maiores elogios. Aproveitando a deixa, você não teria os demais discos da Orquestra Armorial? Seria demais. Abs.