O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Chorando Callado 2 - O Malho (10/05/2011)

Joaquim Antônio da Silva Callado, o pai do Choro, nasceu no dia 11 de julho de 1848. Assim como muitos grandes instrumentistas, nasceu em berço musical. Seu pai era mestre de banda, professor de musica, tocador de cornetim e trompete e regente da Banda Sociedade União de Artistas. A família toda gostava das festas de rua, particularmente o carnaval, e Callado assistia aos desfiles desde os seis anos de idade. Quando tinha 19, compôs sua primeira melodia conhecida, a quadrilha “Carnaval de 1867”. Por uma triste coincidência, foi nesse mesmo ano, em junho, que Callado perdeu o pai, vítima de infarto. Nesse período, Callado já era apaixonado pela flauta transversal, e estava tendo aulas com Henrique Alves de Mesquita, o homem que, dizem os livros, foi o primeiro professor dos chorões, porque ensinou e virou referência para o quarteto ancestral do Choro, formado por Callado, Anacleto de Medeiros, Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth. Callado tinha uma flauta de ébano, que, ainda muito jovem, aprendeu a tocar com perfeição, explorando ao máximo os recursos do instrumento. Notemos que as flautas transversais modernas (conhecidas como flautas transversas de Boehm, que tinham mecanismos e sonoridade consideravelmente melhores) ainda não existiam no Brasil nessa época, porque elas foram trazidas pelo flautista belga Reichert, em 1959, mas só se popularizaram muito tempo depois. Mesmo com as limitações do instrumento, Callado era um virtuose da flauta, o primeiro grande flautista do Choro. Ele também apresentava um tipo físico peculiar, porque sempre usava um pince-nez, um tipo de óculos bem pequeno utilizados para ler de perto, e uns bigodões pretos que reforçavam ainda mais a sua tez de mestiço, que ele orgulhava em ostentar. Os cabelos, encaracolados, recebiam tratamento especial. Eram divididos cuidadosamente ao meio, deixando salientes dois relevos. Na década de 1870, Callado já era conhecido e reconhecido como o melhor flautista brasileiro, e isso resultou em várias conquistas profissionais, como a publicação de várias de suas obras (as polcas “Linguagem do Coração”, “Iman”, “Como é bom” e “Cruzes, minha prima”).  Sua composição chamada “Lundu Característico” foi tocada em concerto em 1873, sendo esta a primeira vez que um gênero negro foi executado nesse contexto. Ele ganhou, graças ao Lundu Característico, a nomeação para a cadeira de flauta do Imperial Conservatório de Música. Em 1879, foi condecorado com a Ordem da Rosa, a mais alta condecoração concedida pelo Império, juntamente com outros professores do conservatório. Ele foi também nomeado professor de música do Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Em 1880, houve, no Rio de Janeiro, uma grave epidemia de meningite. Callado faleceu vítima da doença. Ao longo do século XX, foram muitas as homenagens ao pai do Choro, autor da famosa “Flor Amorosa”, gravada e regravada dezenas de vezes. O disco da postagem de hoje é uma dessas homenagens. Ele foi idealizado e produzido pelo pesquisador e produtor José Silas Xavier (esse é o volume 2, de uma série de 3). Apesar disso, nenhuma composição é de Callado. Temos composições de Pixinguinha, de Avena de Castro e de Cicinato Simões dos Santos. Avena de Castro e Cicinato dos Santos são bandolinistas importantes para a consolidação do Choro em Brasília. De fato, o disco foi gravado pela comunidade chorona do cerrado. Então, temos Alencar no 7 Cordas, Jairo e Valério nos seis cordas, Jonas no cavaquinho e outros. Então, embora sem nenhuma composição do Pai do Choro, o título do disco não deixa dúvidas de que se trata de uma homenagem da cidade do futuro ao grande flautista do passado.

  
Lado A

1-     Saudade do cavaquinho (Pixinguinha – Muraro)
2-    Recordando (Radamés Gnattali)
3-    Quando fala o coração (Heitor Avena de Castro)
4-    Papo de Anjo (Heitor Avena de Castro)
5-    Divina flauta (Heitor Avena de Castro)
6-    A teu gosto (Manoel dos Santos Costa “Nola”)

Lado B

1-     Nos velhos tempos do nascimento (Cincinato Simões dos Santos)
2-    Vontade eu tenho (Cincinato Simões dos Santos)
3-    Nina (Cincinato Simões dos Santos)
4-    Guiomar (Cincinato Simões dos Santos)
5-    Travessuras do Cláudio (Cincinato Simões dos Santos)
6-    Meu carnaval (Cincinato Simões dos Santos)
7-     Marangá (Cincinato Simões dos Santos)

  

2 comentários:

Gregório disse...

Caro amigo. Gostaria de baixar este LP, mas não existe o link. Poderia, por gentileza verificar o problema? Atc. obgdo. Fernando Gregório - Belém-Pará

bredcobelis disse...

Acabei de baixar sem problemas. Eu buscava a tempos esse lp . Obrigada pela postagem