O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Canhoto - É choro, é samba, é maxixe, é sorongo (03/06/2011)

Waldiro Frederico Tramontano nasceu em 1908, no Rio de Janeiro, e foi um dos nomes mais importantes do cavaquinho brasileiro. Se Waldir Azevedo colocou o cavaquinho em lugar de destaque nos conjuntos de Choro, porque passou de instrumento acompanhador para solista, é o Canhoto o pilar central da escola do cavaco centro na música brasileira, principalmente o samba e o choro.  Canhoto protagonizou, também, a história da criação dos conjuntos regionais, a formação instrumental que acompanhou a música brasileira ao longo de décadas. O regional surgiu dos trios de choro, formados por flauta, violão e cavaquinho, que alegravam as noites cariocas do final do século XIX e início do século XX.  Foi na década de 1920, com o surgimento das gravações elétricas e do rádio, que se iniciou o processo de consolidação dos regionais.  Como os programas do rádio eram ao vivo, os músicos que acompanhavam os cantores tinham que ser muito habilidosos, além de terem bom ouvido, e capacidade de tocar qualquer música sem ensaio, bastando, para tanto, saber o tom e combinar algum pequeno arranjo ou introdução. Os chorões eram excelentes nisso tudo, além, é claro, dos espetáculos que proporcionavam quando tocavam seus repertórios de choro. Foi assim, então, que o choro e os regionais ficaram muito próximos do samba e de outros gêneros da música brasileira que tocavam nos rádios. No início, a coisa funcionava mais ou menos assim: flauta, bandolim ou clarineta faziam a introdução e davam o tom para o cantor; cavaquinho e dois violões faziam harmonias e contracantos em terças ou sextas, e um discreto pandeiro marcava o ritmo ao fundo. Esse foi o embrião do regional. Foi em 1930 que surgiu o Gente do Morro, liderado pelo flautista Benedito Lacerda, e que tinha nosso Canhoto no cavaquinho. Desde o início, o Gente do Morro, que em 1934 passou a se chamar Regional de Benedito Lacerda, destacava-se no cenário musical brasileiro pela qualidade.

Em 1937, dois violões vieram engrandecer ainda mais o regional: Dino e Meira. Junto com Canhoto, eles formaram o mais importante núcleo de acompanhamento da música brasileira. O modelo de acompanhamento do regional tinha dois violões e cavaquinho, e distribuía as funções entre esses instrumentos: um dos violões fazia os acordes na região médio-aguda do instrumento, e o outro (ambos tinham seis cordas) fazia a baixaria. O cavaquinho fazia levadas rítmicas variadas, consagradas pela atuação brilhante do Canhoto, e o pandeiro passou a ter maior destaque. No final da década de 1940, juntou-se ao regional o saxofone de Pixinguinha, e disso resultaram os célebres contrapontos feitos por ele à flauta de Benedito Lacerda. Na década de 1950, com a saída de Benedito Lacerda, Canhoto assumiu a liderança do regional, e chamou Altamiro Carrilho para solista oficial do grupo. Então, durante anos, o Regional do Canhoto era: Altamiro Carrilho na flauta, Canhoto no cavaquinho, Dino e Meira nos violões, Orlando Silveira no acordeom e Gilson de Freitas no pandeiro. Posteriormente, saiu Gilson de Freitas e entrou Jorginho do Pandeiro. Em sua última formação, o flautista Carlos Poyares era o solista do regional.  Essa formação se manteve até a década de 1980, com a morte de Meira e Canhoto. A formação instrumental dos regionais, de cuja história Canhoto é protagonista, confirma-se cada vez mais como a formação por excelência do Choro e do samba. Canhoto, por sua vez, é a referência fundante do cavaquinho acompanhador da música brasileira. O disco da postagem de hoje, embora não tenha ficha técnica, pela história do regional e pela data do disco (1960), tem Poyares na flauta, Orlando Silveira no acordeom, Dino, Meira, Canhoto e Jorginho. Ou seja, a nata da fina-flor do Choro brasileiro. Destaco Homenagem à Vitória, de Carlos Poyares, e Chorei, de Pixinguinha e Benedito Lacerda.



             Lado A

      01- Cheio de moral (Jota Santos)
      02-Sorongaio (Pedro Santos)
      03-Chora cavaquinho (Dunga)
      04-Você se lembra (Orlando Silveira)
      05-Chorei Benedicto Lacerda - Pixinguinha)
      06-Apêrto de mão (Harandino Silva – Jaime Florence)

Lado B

01-Nos bons tempos (Carlos Poyares)
02-Sorongando in Madrid (Pedro Santos)
03-Se você visse (Harondino Silva – Del Loro)
04-Boliçoso (Carlos Poyares)
05-Inferno verde (Pedro Santos)
06-Homenagem à Vitória

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