O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Tonico e Tinoco - Na beira da Tuia (06/07/2011)

Como muitas duplas caipiras, Tonico e Tinoco eram irmãos e não tinham esses nomes. Tonico era João Salvador Perez, e Tinoco era José Perez. Eles nasceram em 02 de março de 1917 e em 19 de novembro de 1920, respectivamente, no interior do estado de São Paulo. Seu pai era imigrante espanhol, chegado no Brasil ainda pequeno, e sua mãe, brasileira nata, mestiça de negro e índio. Os dois trabalhavam na lida do café, cultura abundante nas terras paulistas. Os garotos viveram muito tempo em fazendas, em meio a cafezais e festejos rurais, onde estavam presentes a sanfona e a viola, em cantorias que varavam a noite. Por essa influência familiar, os dois irmãos começaram a tocar viola ainda muito pequenos, quando ganharam do pai uma violinha rudimentar, feita por um vizinho de fazenda. Foi nela que executaram os primeiros acordes, ensinados por Virgílio de Souza, violeiro de grande fama no interior de São Paulo. Os garotos ouviam, também, os discos de Cornélio Pires pelo rádio, e assim foram desenvolvendo a habilidade e o conhecimento musical. Eles faziam pequenas apresentações, e foram lentamente ficando conhecidos na região.

Em 15 de agosto de 1935, os irmãos fizeram a primeira apresentação profissional, junto com o primo Miguel, formando o Trio da Roça, na cidade de São Manuel, na festa tradicional em louvor à santa padroeira da cidade. Mas o trabalho como dupla sertaneja dava pouco dinheiro, e os garotos ainda precisavam trabalhar na lavoura do café. A dura vida do campo fez a família Perez sonhar com o asfalto, e, em 1941, mudaram-se para São Paulo. Os jovens caipiras arranjaram emprego em uma tinturaria, e seguiram com a carreira artística, apresentando-se em serenatas, parques de diversões e circos. Não demorou para que conhecessem os grandes nomes da música caipira da época, ícones do rádio, como Raul Torres, Florêncio, Teddy Vieira, Palmeira e Paraci. Começaram a procurar programas de rádio, e participaram de um concurso da Rádio Difusora, que procurava substitutos para a dupla Palmeira e Paraci.  O programa era apresentado pelo Capitão Furtado, o grande nome da música caipira da época. Tonico e Tinoco ganharam todas as etapas do concurso, e, na final, botaram o auditório abaixo. Assinaram, então, um contrato com o Capitão Furtado, que passou a ser produtor e padrinho da dupla. Foi ele também quem batizou-os como Tonico e Tinoco, nome que carregaram por toda a vida.

As portas do sucesso se abriram. Logo a dupla estaria gravando o primeiro disco, precisamente no ano de 1945. Em 1946, gravaram seu maior sucesso, Chico Mineiro. Com o dinheiro das vendas, compraram a primeira casa para a família Perez.  Tonico e Tinoco tocavam no rádio e se apresentavam em circos espalhados por todo o país. As apresentações eram cênico-musicais, com pequenas encenações baseadas nas letras das músicas.  No rádio, tiveram um programa na Rádio Nacional chamado na Beira da Tuia, que dá nome a esse disco da postagem de hoje. O programa ficou no ar por doze anos, sendo ouvido por milhares de pessoas. Foram décadas de agenda lotada, dezenas de discos gravados até que, em 1994, Tonico faleceu, aos 77 anos, ao cair de uma escada de seu apartamento em São Paulo. Tonico e Tinoco foram a maior dupla sertaneja de todos os tempos: criaram um estilo próprio, nunca imitaram ninguém e são, até hoje, imitados por centenas de novas duplas.  Os números de sua carreira dizem tudo: mil gravações; 83 discos em 78 rpm; 14 compactos duplos; 9 compactos simples; 84 LPs; 60 CDs lançados depois que a dupla terminou; 150 milhões de cópias vendidas; 40 mil apresentações; participação em 7 filmes de longa metragem; participação em 26 peças teatrais e circenses; 50 anos de trabalho no rádio; participação na primeira transmissão da TV brasileira; apresentação de 3 programas de televisão, fora as premiações (04 Roquete Pinto; Medalha Anchieta, Ordem do Trabalho, Ordem do Mato Grosso, Troféu Imprensa, 02 Prêmios Sharp de Música e o Prêmio Di Giorgio). Esse disco da postagem de hoje é um pedaço ínfimo da obra imensa de Tonico e Tinoco. Destaco Sereno da Madrugada, de Tonico e Tinoco e Gaúcho Velho, de Herivelto Martins e Pedro de Almeida.


  Lado A

                   01-Amei – Samba Caipira
              (Tonico-Tinoco)

                   02-Brasileiro – Cateretê
              (Tonico-Motinha)

                   03-Segura a saia - Rancheira
                (Perigoso-Tonico-Tinoco)

                   04-João Palhaço – Declamação: Carlito
             (Abílio Vitor-(Nhô Bentico)
  
                   05-Gaúcho velho - Xótis
                 (Herivelto Martins-Pedro de Almeida)

                    06-Sereno da madrugada - Valseado
            (Tonico-Tinoco)

 Lado B

              01-Rei do gado – Moda de viola
(Teddy Vieira)

02-Meu sertão - Toada
  (Tonico-José Lopes)

        03-A madrasta - Toada
      (Chiquinho-Zé Paioça)

        04-Me leva - Valsa
  (Priminho-Elpidio dos Santos)

       05-Carro de boi - Toada
     (Tonico)

             06-Curitibana – Corrido
              (Perigoso-Tonico-Tinoco)






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