O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Dilermando Reis - Homenagem a Ernesto Nazareth (28.09.2011)

Dilermando Reis nasceu na cidade Guaratinguetá, no interior de São Paulo, em 1916. Seu pai era funcionário público e tocava um violãozinho nas serestas da cidade. Dilermando agarrou-se com o violão desde pequeno, e nunca mais largou. Tocava tudo de ouvido, e suas composições preferidas eram as do Canhoto. Aos 15 anos, ele já era reconhecido como grande violonista em Guaratinguetá.  Foi nessa época, em 1931, que Dilermando foi ao cinema ver um recital de Levino Albano da Conceição. Ficou impressionado e encantado. Mas não mais do que o próprio Levino, quando viu a desenvoltura do menino com o instrumento. Resultado: Levino carregou o menino para o Rio de Janeiro. Em troca das aulas que daria a Dilermando, o garoto serviria de guia ao violonista cego. Um dia, Levino disse que iria a Campos e voltaria 15 dias depois. Deixou esses 15 dias de hotel pagos para Dilermando. Mas voltou só dois anos depois. Dilermando, com 17 anos, era um garoto do interior, sozinho na cidade grande, sem dinheiro, sem trabalho, sem ninguém. Ocorre que, antes de Levino ir embora, havia apresentado Dilermando a João Pernambuco. Dilermando, em vez de voltar para Guaratinguetá, foi atrás do homem, que o acolheu no quarto da pensão. Dilermando foi procurar trabalho, e começou a dar aulas de violão nas lojas de instrumentos musicais. Elas eram freqüentadas por artistas como Noel Rosa, Carmem Miranda, Francisco Alves, Vicente Celestino, Luiz Gonzaga e o próprio João Pernambuco, que iam divulgar seus trabalhos e conversar. Dilermando arranjou também um bico sem contrato na Rádio Guanabara, tocando para acompanhar calouros. Ganhava pouco, trabalhava muito, mas pagava o aluguel.  Em 1936, começou a trabalhar na Rádio Transmissora, à frente de um programa só de violão, de nome Variedades Esso. Nessa mesma rádio, trabalhavam Pixinguinha e seu regional: Luiz Americano, João da Baiana, Tute e Luperce Miranda. Dilermando foi convidado para integrar esse regional, e aí sua carreira deslanchou. Em 1941, gravou seu primeiro disco pela Columbia, que virou Continental, e foi sua única gravadora. Foram trinta e cinco discos em 78 rpm e 25 LPs. Dilermando continuou trabalhando no rádio, dando aulas de violão e gravando até o final da vida. Na década de 1950, já era um violonista de grande reconhecimento. Inclusive um garoto de 10 anos, apaixonado por violão, de nome Baden Powell, ganhou o primeiro lugar ao imitar Dilermando Reis em um programa de calouros. Dilermando era uma espécie de orgulho nacional. Tanto que seu enorme talento gerou grande admiração em um dos homens mais nacionalistas do país, o então Presidente Juscelino Kubitschek. Na posição de presidente da nação, era fácil para ele se aproximar do ídolo. Os dois ficaram amigos, e Dilermando dava aulas de violão para uma das filhas de JK. Claro que essa amizade gerou muitas oportunidades a Dilermando, como, por exemplo, comandar um programa na Rádio Nacional. Sua Majestade, O Violão, foi apresentado por Sargentelli, depois por César Ladeira, e fazia um sucesso estrondoso. A vida de Dilermando na maturidade era tranqüila e sem sobressaltos: fazia programas de rádio de manhã e dava aulas à tarde. Juscelino, contudo, preocupado com o futuro do amigo músico, cuja vida poderia virar a qualquer momento, resolve nomeá-lo delegado fiscal (no dia 20 de abril de 1960), como uma espécie de mecenato torto. Mas Dilermando era muito sério. Então, fez um curso de formação e abandonou as aulas para poder ir trabalhar. Mas manteve o programa de rádio, até 1969, período de decadência do rádio. Ele gravou até dois anos antes de morrer, em 2 de janeiro de 1977.
Nesse disco, ele interpreta Ernesto Nazareth. Está aí uma fonte inesgotável de violão brasileiro, onde beberam grandes, como Baden Powell e Raphael Rabello. Portanto, bebam esse som!


     Lado A

1-Odeon
2-Favorito
3-Tenebroso
4-Brejeiro
5-Floreaux
6-Escorregando

      Lado B

1-Apanhei-te cavaquinho
2-Escovado
3-Ouro sobre prata
4-Bambino
5-Espalhafatoso
6- Biciclete club

             Composições de Ernesto Nazareth


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