O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.
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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

João do Pife e sua gente - Prato feito (08/09/2011)

Eba, mais um disco do gênio do pife, João Bibi dos Santos, conhecido como João do Pife. O Acervo Origens já postou um disco dele chamado o Rei do Pife, juntamente com um pequeno texto sobre sua biografia, que contém absolutamente todas as informações sobre o artista disponíveis em fontes secundárias (livros, revistas, internet, artigos). Realmente é bem difícil saber mais sobre esse grande músico alagoano. Ele gravou vários discos. Esse da postagem de hoje não tem sequer data. Pela discografia de João do Pife, ele deve estar situado na década de 1970. Nele, João solta os dedos, evidenciando grande virtuosismo. Além de tocar muito, João do Pife era bem acompanhado. A formação instrumental difere um pouco das bandas de pífano tradicionais, que têm zabumba, prato, caixa ou surdo e dois pífanos. Aqui há um pífano e uma sanfona, juntamente com a zabumba e triângulo. Mas a sonoridade que tiram fica bem parecida com a que ouvimos nas bandinhas de pífano. E as composições de João do Pife são também características do repertório tradicional do pífano. Esse disco é uma raridade, uma verdadeira pérola da música brasileira.


Lado A

1-Prato feito (João do Pife)
2-Festival do Norte (João do Pife)
3-Arrasta pé em Tupã (Casimiro Vereda)
4-Desafio (João do Pife)
5-Brincando com o pife (João do pife- Zé Alagoas)
6-Amigo de todo mundo (João do Pife – Xiquinho de Queiroz)
7-Xodó do pife (João do Pife – Casimiro Vereda)

Lado B

1-Só faça assim (João do Pife- Orlando)
2-O cangaceiro (D.P.)
3-Arrepia os cabelos (João do Pife)
4-Tudo isso é bom (João do Pife)
5-Retirante (Casimiro Vereda- Zé do Rojão)
6-Cascata(João do Pife)

terça-feira, 28 de junho de 2011

Instrumentos Populares do Nordeste (28/06/2011)

Esse “Instrumentos Populares do Nordeste” é mais um disco pitoresco, resultado dos projetos, da pequena gravadora Marcus Pereira, de registrar as músicas tradicionais brasileiras. Aproveitemos, então, esse disco de hoje para falar um pouco mais de Marcus Pereira e de sua famosa gravadora.

A Marcus Pereira foi criada oficialmente em 1974 (embora seu proprietário tenha feito algumas produções antes, sob o selo “Jogral”, que era o nome de um bar freqüentado por intelectuais em São Paulo), com o objetivo claro de resgatar a verdadeira música brasileira, que estava perdendo espaço para gêneros estrangeiros, principalmente norte-americanos.  O projeto começou no tal Bar Jogral, de propriedade do músico Luis Carlos Paraná, e que era freqüentado por um grupo de amigos, entre os quais estavam compositores como Paulo Vanzolini e Chico Buarque, produtores musicais como Aluízio Falcão e o publicitário Marcus Pereira. No final de 1967, Marcus Pereira resolveu, então, gravar um disco para divulgar os valores musicais que o intrépido grupo de amigos acreditava. Ele gravou “Onze Sambas de Uma Capoeira” (que inclusive está disponível em nosso blog, aqui), com doze composições de Paulo Vanzolini, cantados por vozes como Chico e Cristina Buarque. O disco foi produzido pela Marcus Pereira Publicidade, e patrocinado por um de seus clientes, a Independência S.A, para ser distribuído como brinde de final de ano da empresa. No ano seguinte, o brinde da empresa foi o disco “Brasil, Flauta, Cavaquinho e Violão”, contendo 14 chorinhos.

Foi no ano de 1973 que Marcus Pereira, antes de criar oficialmente a gravadora que levaria seu nome, iniciou seu ambicioso projeto de fazer o mapeamento da música popular brasileira. O “Mapa Musical do Brasil” pretendia fazer o registro do cancioneiro e das manifestações culturais das regiões Nordeste, Centro-Oeste/Sudeste, Sul e Norte. Composto de quatro volumes, com quatro discos em cada volume, cada volume voltado para uma região brasileira, o objetivo era captar in loco algumas manifestações culturais locais, tais como cirandas, repentes e barachos no “Música Popular do Nordeste”; procissões como a do Círio de Nazaré em Belém do Pará, músicas indígenas e carimbós no “Música Popular do Norte”; modas de viola, fandangos, festas como a Folia de Reis e Carnaval no “Música Popular do Centro-Oeste/Sudeste”; e ternos, canções de trabalho, festas como Bandeira do Divino, e modas ligadas ao romanceiro do gado no “Música Popular do Sul”. Junto as gravações feitas  pelos  artistas populares, alguns artistas reconhecidos do público também participaram do projeto, cantando músicas de seu local de origem. Desta forma, a gaúcha Elis Regina participou do “Música Popular do Sul”, e Nara Leão e Clementina de Jesus gravaram para a “Música Popular do Centro-Oeste/Sudeste”.

Esse disco da postagem de hoje, embora não faça parte do Mapa Musical do Brasil, segue o mesmo objetivo, e complementa, de forma espetacular, esse fantástico mapeamento empreendido por Marcus Pereira. Produzido por Antônio Madureira, ele traz artistas que são até hoje grandes expressões de gêneros populares do nordeste. Tem a banda de Pífanos Irmãos Aniceto, maracatu-nação Estrela Brilhante, maracatu-rural Estrela da Tarde, Caboclinhos Cahetês, Reisado do Juazeiro, Orquestra de Mamulengos. Se hoje esses nomes são até relativamente bem conhecidos, e reconhecidos, no início da década de 1970, a maioria das pessoas, assim como o meio musical, considerava esse tipo de música rústica, primitiva, ultrapassada e obsoleta, porque o que valia mesmo era o rock’n’roll. Esse foi outro grande mérito de Marcus Pereira, o de remar contra a maré, tendo absoluta certeza de que estava certo. Apesar de estar certo, as coisas não eram fáceis para ele. Em 1982, depois da recessão de 1979, a gravadora estava atolada em dívidas, e acabou falindo. Marcus Pereira se suicidou. Por sua iniciativa, foram gravados 144 discos, com artistas como Abel Ferreira, Altamiro Carrilho, Arthur Moreira Lima, Banda de Pífanos de Caruaru, Canhoto da Paraíba, Carlos Poyares, Carmem Costa, Cartola, Celso Machado, Chico Buarque, Chico Maranhão, Clementina de Jesus, Dercio Marques, Dona Ivone Lara, Donga, Elba Ramalho, Elis Regina, Elomar, Evandro do Bandolim, Jane Duboc (Jane Vaquer), Lecy Brandão, Monarco, Nara Leão, Papete, Paulo Marquez, Paulo Vanzolini, Quinteto Armorial, Quinteto Villa-Lobos, Raul de Barros, Renato Teixeira e Roberto Silva, entre outros. A maior parte do catálogo da Marcus Pereira nunca foi lançado em CD. O acervo foi absorvido pela Copacabana, que foi incorporada à EMI. Ele encontra-se, hoje, em um contêiner, no bairro de Cordovil, no Rio de Janeiro, e a EMI não tem a menor intenção de relançá-lo. Mas nós, blogueiros, estamos aqui tapando esses buracos, e levando para o público os tesouros que são, acima de tudo, de todos nós. Então, apropriem-se desse patrimônio!


Lado A

01-Terno de Pífanos – Marcha de Campanha (Grupo dos Irmãos Aniceto)
02-Terno de Pífanos – O Cachorro, O caçador e a onça (Grupo dos Irmãos Aniceto)
03-Caboclinhos – Toque de guerra (Caboclinhos de Cahetés)
04-Viola Nordestina – Toadas e Baiões(depoimentos) (Diniz Vitorino)
05-Maracatú Rural – Baque solto (Marcha I “Estrela da tarde”)
06-Reisado – Jornada (Reisado de Juazeiro)
07-Orquestra de cavalo marinho – Chamada (Alvorada)

Lado B

01-Caboclinos – Baiano (Caboclinhos de Cahetés)
02-Berimbau de lata – A ema
03-Berimbau de lata – Bendito
04-Berimbau de lata – Galope (Severino)
05-Maracatú nação – Baque virado (Toada “estrela brilhante”)
06-Reisado – Combate de espadas (Fragmentos) (Reisado do Juazeiro)
07-Rabeca – Jornada de chegança (Sebastião Cândido da Silva)
08-Maracatú rural – Baque solto (MarchaII) (Estrela da tarde)
09-Terno de Pífanos – Baião Trancelim (Grupo dos Irmãos Aniceto)
10-Terno de Pífanos – Marcha Trancelim (Grupo dos Irmão Aniceto)
11-Orquestra de Mamulengo – Baião (Alvorada)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Biu do Pife - Pife do Biu - (19/11/2010)

Está aí um disco espetacular, de um grande mestre do pífano, o caruaruense Biu do Pife. O pife, pífano ou pífaro é uma flauta rústica, feita de bambu, madeira ou PVC, com seis furos para os dedos e um para o sopro, tocada transversalmente. As bandas de pífano, também conhecidas como bandas cabaçais, são uma tradição do nordeste brasileiro. Mais informações sobre bandas de pífanos estão aqui, na postagem de um disco da Banda de Pífanos de Caruaru, a mais famosa delas. Esse disco mostra que Biu do Pife figura entre os maiores tocadores de pife do nordeste. Reparem que, nesse disco, Biu toca acompanhado de sanfona e outros instrumentos harmônicos e melódicos. Nas bandas de pífano tradicionais, as flautas tocam acompanhadas apenas de instrumentos percussivos, como zabumba, prato e caixa. Essa formação elimina problemas de afinação, porque os pífanos nem sempre são bem afinados com outros instrumentos melódico-harmônicos. Então, é de se admirar o ouvido e a afinação de Biu. Destaco as músicas No Forró de Seu Vavá é Assim, de autoria de Biu do Pife e Genival Lacerda, e Forró de Carrossel, linda música bem no estilo das bandas de pífano nordestinas.

Lado A

1-     Comendo jaca (Biu do Pife-Ivan Bulhões)
2-     Forró tremido (Biu do Pife-Ulisses Silva)
3-     Chililique (João Silva-J. B de Aquino)
4-    No forró de seu Vavá é assim (Biu do Pife-Genival Lacerda)
5-     Xote dela (Biu do Pife-Djalma do Hi Fi)
6-     Forró de carrossel (José I. da Silva-Euclides Faria)

Lado B

1-      Feira na cultura (Biu do Pife-Agenor Farias)
2-     A que faltava (Biu do Pife-Helio Lacerda)
3-     Empurra o burro (João do Pife)
4-     Você se lembra (Biu do Pife-Carlos Ferraz)
5-     Lembrando as novenas (Biu do Pife-Cicero Romão do Coutinho)
6-     Vamos brincar com liberdade (Lidio Cavalcante-Adolfo da Modinha)