O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio.
Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.
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terça-feira, 29 de março de 2022
quinta-feira, 28 de janeiro de 2016
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Gordurinha - Mamãe estou agradando (01/09/2011)
Waldeck Artur de Macêdo nasceu no bairro da Saúde, em Salvador, no dia 10 de agosto de 1922. Sempre foi magro, magérrimo, e foi por isso que o irônico apelido de Gordurinha pegou. Ele começou a carreira como cantor aos 16 anos, em um programa de calouros na Rádio Sociedade da Bahia, em Salvador. Depois, trabalhou em rádios em Recife, foi para o Rio de Janeiro, voltou para Recife. No ano de 1954, o grande cantor Jorge Veiga gravou uma de suas composições, o baião “Quero me casar”. O final da década de 1950 foi particularmente importante para a vida de Gordurinha. Foi em 58 que gravou o côco “Vendedor de Caranguejo”, um de seus maiores sucessos. Em 1959, Jackson do Pandeiro gravou “Chiclete com Banana”, a música que virou nome de banda de axé, tirinha de cartunista (genial, por sinal, o Chiclete com Banana de Angeli), peça de teatro, além de ser o hino da resistência ao colonialismo cultural norte-americano. Também, em 1959, gravou o baião “Baiano Burro Nasce Morto”, que virou uma espécie de definição bem-humorada da baianidade. Em 1960, Gordurinha gravou sua obra-prima: o baião-toada Súplica Cearense, música que Luiz Gonzaga confessou que desejava ter sido ele o compositor. Foram muitos os intérpretes que gravaram o Gordurinha: o próprio Jackson, Gilberto Gil, Jorge Veiga, entre muitos outros. Como todos poderão ouvir nesse disco, Gordurinha tinha grande inclinação para o humor. Tanto suas composições quanto o repertório que escolhia para interpretar eram carregados de sátiras. Isso chamava tanto a atenção da crítica e do público que ele acabou ficando conhecido por ser engraçadinho. Mas ouçam com atenção a sua Súplica Cearense, e perceberão que Gordurinha era muito mais do que um compositor de coisas cômicas. Ademais, sua vida foi cheia de passagens tristes e trágicas. Por conta de uma asma que corroia seus pulmões, Gordurinha começou a usar morfina, e acabou se viciando. O vício gerava altos e baixos, fugas de casa com desaparecimento por vários dias, voltas para casa em péssimo estado, instabilidades emocionais e financeiras. Foi a morfina que o matou, de overdose, no dia 16 de janeiro de 1969.
Lado A
1-Bossa quase nova (Gordurinha) Samba
2-Súplica Cearense (Gordurinha – Nelinho) Baião-toada
3-Tô doido pra ficar maluco (Rodrigues da Silva – Ataíde Pereira) Rock
4-Poeira de morte (Florentino Coelho – Eloide Warthon) Baião-toada
5-Na marca do penalty (Erasmo Silva) Samba
6-Não sou de nada (Gordurinha – Valter Silva) Samba côco
Lado B
1-Passe ontem (Umberto Silva – Luiz Mergulhão) Xote
2-Eu preciso namorar (Gordurinha) Rasqueado
3-Meio termo (Gordurinha) Samba
4-Calouro teimoso (Gordurinha – Nelinho) Samba
5-Quando os Baianos se encontram (Oscar Bellandi – José Ribeiro) Samba
6-O marido da vedete (Gordurinha) Samba
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Luiz Gonzaga O Homem da Terra (19/08/2011)
Luiz Gonzaga nasceu em 13 de dezembro de 1912, na fazenda Caiçara, em terras do barão de Exu, e foi o segundo de nove filhos do casal Januário José dos Santos e Santana Batista de Jesus, que na pia batismal da matriz de Exu, recebe o nome de Luiz (por ser o dia de Santa Luzia) Gonzaga (por sugestão do vigário) Nascimento (por ter nascido em dezembro, também mês de nascimento de Jesus Cristo). Seu pai, o famoso velho Januário, era um conhecido tocador da sanfona de 8 baixos, e incentivava os filhos a aprenderem música. Luiz foi o que mais se aproximou da música. Aos 8 anos, já tocava nas festinhas em Exu, Araripe e municípios próximos. Quando completou 16 anos, já era muito conhecido de toda a região. Na década de 1920, Luiz tocou pela região do Araripe; em 1929, apaixonou-se por Nazarena, da família Saraiva. Mas o pai dela, o coronel Raimundo Delgado, não gostou da história, e ameaçou Luiz Gonzaga de de morte. Avisados pelo próprio Delgado, Januário e Santana aplicam uma surra em Luiz que, revoltado, decide fugir de casa, indo a pé até o Crato onde vende a sua sanfoninha por 80 mil réis. Solto no mundo, Luiz acaba se alistando no exército. Assim, viajou muito, como corneteiro do exército, com o apelido de "bico de aço".Saiu do exército e rumou para o Rio de Janeiro, e foi praticamente aí que iniciou sua vida artística. Importante é lembrar que o Rio de Janeiro, nesse período, era o lugar que aglutinava artistas de vários lugares do país; lá, então, havia a convivencia e a mistura de vários gêneros musicais. Além disso, era lá que estavam se instalando as primeiras gravadoras multinacionais, e era lá o centro da produção cultural. Então, o Rio era mesmo o lugar dos artistas. As primeiras apresentações de Luiz Gonzaga foram em casas noturnas e cabares no centro do Rio. Seu repertório, no início da carreira, era composto por valsas, tangos, blues e choros. Nada de baião, xaxado nem xote. Diz a lenda que foi um grupo de estudantes cearenses que provocou Luiz Gonzaga para que ele tocasse coisas do norte. Ele tocou Vira e Mexe e Pé de Serra. Foi esse encontro que desencadeou a mudança no repertório de Luiz, que voltou às suas origens nordestinas. Vira e Mexe foi vencedora, em 1940, do mais temido programa de calouros da TV brasileira, apresentado por Ary Barroso. Dizem que Luiz saiu ovacionado pelo público e pelos jurados. Foi graças a esse programa que a carreira artística de Luiz começou a acontecer. Outros contratos surgiram, inclusive para participar de gravações de discos. Nesse período, Luiz não se atrevia a cantar. Quando fazia isso, os produtores musicais e radialistas o reprimiam, porque achavam sua voz anasalada. Então, Luiz começou mesmo a se destacar como instrumentista, como sanfoneiro.
Mesmo com a idéia que predominava, entre os produtores e radialistas, de que a voz de Luiz Gonzaga não era boa porque não combinava com a estética vocal dos grandes cantores do rádio da época, como Vicente Celestino, Nelson Gonçalves e Orlando Silva, Luiz insistia em cantar. Ao mesmo tempo, não era fácil encontrar um bom intérprete para os ritmos nordestinos. Então, diante da insistência do próprio Luiz, ele acabou gravando a música Dança Mariquinha. Mesmo depois disso, a implicância com a voz de Luiz era tanta que, na Rádio Nacional, afixaram um cartaz na parede, com os seguintes dizeres: "Luiz Gonzaga está proibido de usar microfone de lapela". Mas ele insistiu muito, e gravou mais composições suas, que fizeram sucesso, e sua voz começou a ser ouvida na Rádio nacional também. Foi por esse período, em meados da década de 1940, que Luiz começou a botar para funcionar o seu ambicioso projeto, o de criar um gênero musical, inspirado no folclore de sua região natal, que mostrasse o nordeste para o resto do Brasil; além disso, ele sabia que, nessa época, havia grande migração de nordestinos para os grandes centros do país. Então, Luiz queria fazer uma música com a qual essas pessoas se identificassem. Saiu à procura de um parceiro que tivesse sensibilidade musical nordestina, e que fosse capaz de mostrar toda a beleza cultural do nordeste, para aguçar, nos migrantes, o orgulho de suas raízes. Encontrou Humberto Teixeira. Literalmente, eles "inventaram" um gênero, e apresentaram o baião para todo o Brasil. Luiz se identificava como um estilizador de um ritmo que já existia no nordeste; ele afirma que sua atuação se deu ao montar a formação instrumental - sanfona, zabumba e triângulo -, que era acessível ao meio urbano. Em 1972, ele disse o seguinte, em entrevista à revista veja: "o baião foi idéia minha e do Humberto Teixeira. Quando mostrei o baião para ele, surgiu a idéia de um gênero novo. Mas o baião já existia como coisa do folclore. Eu tirei do bojo da viola do cantador". Por isso, de fato, embora inspirado na tradição musical nordestina, Luiz Gonzaga inventou o baião como gênero da música popular brasileira, e podemos dizer que isso aconteceu em 1946. As suas letras evidenciam também essa intenção, de mostrar algo novo ao Brasil. Um de seus maiores sucessos, a música de nome "baião", foi feita em parceria com Humberto Teixeira, e ensina o que é o gênero e como dançá-lo.
A carreira de Luiz Gonzaga teve altos e baixos, momentos em que ele fez muito sucesso, e outros bem difíceis. Teve,também, grandes parceiros, como Humberto Teixeira e Zé Dantas. Luiz também foi padrinho de grandes nomes da música nordestina, como Dominguinhos e Marinês. Luiz Gonzaga faleceu no dia 02 de agosto de 1989, vítima de osteoporose, no Hospital Santa Joana, na capital pernambucana. Foi sepultado em seu município natal. Alguns meses antes, na última apresentação que ele fez na vida, no dia 06 de junho de 1989 no Teatro Guararapes do Centro de Convenções de Recife, Luiz Gonzaga disse: “Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão; que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor. Este sanfoneiro viveu feliz por ver o seu nome reconhecido por outros poetas, como Gonzaguinha, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Alceu Valença. Quero ser lembrado como o sanfoneiro que cantou muito o seu povo, que foi honesto, que criou filhos, que amou a vida, deixando um exemplo de trabalho, de paz e amor. Gostaria que lembrassem que sou filho de Januário e dona Santana. (...) Muito obrigado." Hoje, temos absoluta certeza de que ele nunca será esquecido. Luiz Gonzaga é, a cada dia, mais admirado e reverenciado. Ele é um dos pilares da música popular brasileira, uma de suas maiores expressões. Quanto mais o tempo passa, mais percebemos a genialidade de um homem cuja obra nunca deixará de ser atual.
O disco de hoje, gravado em 1980, tem grandes sucessos, como Estrada de Canindé e Siri Jogando Bola. Destaco a música Triste Partida, que virou um verdadeiro manifesto sertanejo na voz de Luiz Gonzaga.
Lado A
1-Mamulengo (Luiz Bandeira)
2-O homem da terra (Walter Santos – Tereza Souza)
3-A triste partida (Patativa do Assaré)
4-Siri jogando bola (Luiz Gonzaga – Zé Dantas)
5-Estrada de Canindé (Humberto Teixeira – Luiz Gonzaga)
Lado B
1-Lá vai pitomba (Luiz Gonzaga – Onildo Almeida)
2-O monte (maquinista e sacristão) (Luiz Bandeira)
3-Cananã (Venâncio – Aparício Nascimento)
4-O adeus da Asa Branca (Tributo a Humberto Teixeira) (Dalton Vogeler)
5-Cego Aderaldo (João Silva – P. Maranguape)
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Geraldo Vandré - 5 anos de canção (29/06/2011)
Geraldo Pedrosa de Araújo Dias nasceu na Paraíba, no dia 12 de setembro de 1935. Quando tinha 14 anos, participou de seu primeiro programa de calouros. Com 16, foi-se embora para o Rio de Janeiro, para tentar a carreira artística. No começo, ele ficava daqui e dali, tentando espaço para cantar. Aos 20 anos, com o pseudônimo de Carlos Dias, participou de um concurso musical promovido pela TV-Rio, defendendo a canção Menina, de Carlos Lyra. Logo depois, ele teve oportunidade de se apresentar em um programa de rádio da Roquete Pinto, e foi aí que começou a usar o nome Vandré, que surgiu a partir de uma abreviatura do nome de seu pai, José Vandresigilo. Na faculdade de Direito, ele conheceu o primeiro parceiro, Carlos Lyra, e desistiu de ser cantor para dedicar-se à composição. No começo dos anos 60, fez as primeiras gravações, e, em 1964, gravou seu primeiro LP. Foi nesse período que Vandré começou a participar dos festivais da canção, conseguindo destaque em vários deles. Foi também nesse período, precisamente em 1965, que ele gravou esse LP da postagem de hoje, que contém lindas músicas que, de certa maneira, prenunciavam o sucesso, a polêmica e a trajetória única desse grande compositor. O primeiro festival ele ganhou em São Paulo, com a música Porta-estandarte, defendida por Tuca e Airto Moreira. Em 1966, ele ganhou o Festival da Música Popular Brasileira da TV Record com a música Disparada, feita em parceria com Téo de Barros, interpretada por Jair Rodrigues, Trio Novo e Trio Maraia. Em 1967, ele ganhou um programa próprio na TV Record, de nome Disparada.
Nos próximos anos, Vandré iria participar de vários festivais. O mais importante deles, porém, ocorreu logo em 1968, quando ele causou imenso impacto no III Festival Internacional da Canção, com a música Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores, que marcou Geraldo Vandré como compositor de músicas de protesto. A música ficou em 2º lugar, a contragosto do público, que vaiou a vencedora, a belíssima Sabiá, de Tom Jobim e Vinícius de Morais. Nesse dia, o Maracanazinho lotado cantou em uníssono: caminhando e cantando e seguindo a canção.... Sua música virou um dos maiores hinos da resistência à ditadura militar, e acabou sendo censurada. Por conta disso, Vandré seguiu para o exílio (na verdade, os mesmos agentes que prenderam Caetano iriam prender Vandré, mas, avisado antes, ele saiu do país). Ele voltou ao país quatro anos e meio depois, e simplesmente sumiu dos palcos, desapareceu da vida artística. Recentemente, ele deu uma entrevista à GloboNews, e lá disse que vive em um Hotel que fica no clube da Aeronáutica, que pertence à FAB, a Força Aérea Brasileira. Disse ele, também, que, nos últimos anos, vem trabalhando em uma obra em homenagem à Força Aérea, cujo nome é Fabiana, em homenagem à FAB. Disse também que nunca foi antimilitarista, e nem nunca fez canção de protesto, apenas fazia música brasileira. Suas posições são estranhas, aparentemente incoerentes com os fatos que o tornaram famoso, mas de uma lucidez desconcertante. Vale a pena conferir a entrevista. Mas, melhor do que isso, é ouvir esse disco, cheio de belas músicas, em que Vandré demonstra o grande compositor que sempre foi.
Lado A
1-Porta Estandarte (G. Vandré – Fernando Lona)
2-Depois é só chorar (Geraldo Vandré)
3-Tristeza de amar (G. Vandré – Luiz Roberto)
4-Réquiem para Matraga (Geraldo Vandré)
5-Canção do breve amor (G. Vandré – Alaíde Costa)
6-Fica mal com Deus (Geraldo Vandré)
Lado B
1-Rosa Flor (Baden Powel – G. Vandré)
2-Pequeno concerto que ficou canção (Geraldo Vandré)
3-Se a tristeza chegar (Baden Powel – G. Vandré)
4-Canção Nordestina (Geraldo Vandré)
5-Ninguém pode mais sofrer (G. Vandré – Luiz Roberto)
6-Quem quiser encontrar o amor (Geraldo Vandré – Carlos Lyra)
terça-feira, 28 de junho de 2011
Instrumentos Populares do Nordeste (28/06/2011)
Esse “Instrumentos Populares do Nordeste” é mais um disco pitoresco, resultado dos projetos, da pequena gravadora Marcus Pereira, de registrar as músicas tradicionais brasileiras. Aproveitemos, então, esse disco de hoje para falar um pouco mais de Marcus Pereira e de sua famosa gravadora.
A Marcus Pereira foi criada oficialmente em 1974 (embora seu proprietário tenha feito algumas produções antes, sob o selo “Jogral”, que era o nome de um bar freqüentado por intelectuais em São Paulo), com o objetivo claro de resgatar a verdadeira música brasileira, que estava perdendo espaço para gêneros estrangeiros, principalmente norte-americanos. O projeto começou no tal Bar Jogral, de propriedade do músico Luis Carlos Paraná, e que era freqüentado por um grupo de amigos, entre os quais estavam compositores como Paulo Vanzolini e Chico Buarque, produtores musicais como Aluízio Falcão e o publicitário Marcus Pereira. No final de 1967, Marcus Pereira resolveu, então, gravar um disco para divulgar os valores musicais que o intrépido grupo de amigos acreditava. Ele gravou “Onze Sambas de Uma Capoeira” (que inclusive está disponível em nosso blog, aqui), com doze composições de Paulo Vanzolini, cantados por vozes como Chico e Cristina Buarque. O disco foi produzido pela Marcus Pereira Publicidade, e patrocinado por um de seus clientes, a Independência S.A, para ser distribuído como brinde de final de ano da empresa. No ano seguinte, o brinde da empresa foi o disco “Brasil, Flauta, Cavaquinho e Violão”, contendo 14 chorinhos.
Foi no ano de 1973 que Marcus Pereira, antes de criar oficialmente a gravadora que levaria seu nome, iniciou seu ambicioso projeto de fazer o mapeamento da música popular brasileira. O “Mapa Musical do Brasil” pretendia fazer o registro do cancioneiro e das manifestações culturais das regiões Nordeste, Centro-Oeste/Sudeste, Sul e Norte. Composto de quatro volumes, com quatro discos em cada volume, cada volume voltado para uma região brasileira, o objetivo era captar in loco algumas manifestações culturais locais, tais como cirandas, repentes e barachos no “Música Popular do Nordeste”; procissões como a do Círio de Nazaré em Belém do Pará, músicas indígenas e carimbós no “Música Popular do Norte”; modas de viola, fandangos, festas como a Folia de Reis e Carnaval no “Música Popular do Centro-Oeste/Sudeste”; e ternos, canções de trabalho, festas como Bandeira do Divino, e modas ligadas ao romanceiro do gado no “Música Popular do Sul”. Junto as gravações feitas pelos artistas populares, alguns artistas reconhecidos do público também participaram do projeto, cantando músicas de seu local de origem. Desta forma, a gaúcha Elis Regina participou do “Música Popular do Sul”, e Nara Leão e Clementina de Jesus gravaram para a “Música Popular do Centro-Oeste/Sudeste”.
Esse disco da postagem de hoje, embora não faça parte do Mapa Musical do Brasil, segue o mesmo objetivo, e complementa, de forma espetacular, esse fantástico mapeamento empreendido por Marcus Pereira. Produzido por Antônio Madureira, ele traz artistas que são até hoje grandes expressões de gêneros populares do nordeste. Tem a banda de Pífanos Irmãos Aniceto, maracatu-nação Estrela Brilhante, maracatu-rural Estrela da Tarde, Caboclinhos Cahetês, Reisado do Juazeiro, Orquestra de Mamulengos. Se hoje esses nomes são até relativamente bem conhecidos, e reconhecidos, no início da década de 1970, a maioria das pessoas, assim como o meio musical, considerava esse tipo de música rústica, primitiva, ultrapassada e obsoleta, porque o que valia mesmo era o rock’n’roll. Esse foi outro grande mérito de Marcus Pereira, o de remar contra a maré, tendo absoluta certeza de que estava certo. Apesar de estar certo, as coisas não eram fáceis para ele. Em 1982, depois da recessão de 1979, a gravadora estava atolada em dívidas, e acabou falindo. Marcus Pereira se suicidou. Por sua iniciativa, foram gravados 144 discos, com artistas como Abel Ferreira, Altamiro Carrilho, Arthur Moreira Lima, Banda de Pífanos de Caruaru, Canhoto da Paraíba, Carlos Poyares, Carmem Costa, Cartola, Celso Machado, Chico Buarque, Chico Maranhão, Clementina de Jesus, Dercio Marques, Dona Ivone Lara, Donga, Elba Ramalho, Elis Regina, Elomar, Evandro do Bandolim, Jane Duboc (Jane Vaquer), Lecy Brandão, Monarco, Nara Leão, Papete, Paulo Marquez, Paulo Vanzolini, Quinteto Armorial, Quinteto Villa-Lobos, Raul de Barros, Renato Teixeira e Roberto Silva, entre outros. A maior parte do catálogo da Marcus Pereira nunca foi lançado em CD. O acervo foi absorvido pela Copacabana, que foi incorporada à EMI. Ele encontra-se, hoje, em um contêiner, no bairro de Cordovil, no Rio de Janeiro, e a EMI não tem a menor intenção de relançá-lo. Mas nós, blogueiros, estamos aqui tapando esses buracos, e levando para o público os tesouros que são, acima de tudo, de todos nós. Então, apropriem-se desse patrimônio!
Lado A
01-Terno de Pífanos – Marcha de Campanha (Grupo dos Irmãos Aniceto)
02-Terno de Pífanos – O Cachorro, O caçador e a onça (Grupo dos Irmãos Aniceto)
03-Caboclinhos – Toque de guerra (Caboclinhos de Cahetés)
04-Viola Nordestina – Toadas e Baiões(depoimentos) (Diniz Vitorino)
05-Maracatú Rural – Baque solto (Marcha I “Estrela da tarde”)
06-Reisado – Jornada (Reisado de Juazeiro)
07-Orquestra de cavalo marinho – Chamada (Alvorada)
Lado B
01-Caboclinos – Baiano (Caboclinhos de Cahetés)
02-Berimbau de lata – A ema
03-Berimbau de lata – Bendito
04-Berimbau de lata – Galope (Severino)
05-Maracatú nação – Baque virado (Toada “estrela brilhante”)
06-Reisado – Combate de espadas (Fragmentos) (Reisado do Juazeiro)
07-Rabeca – Jornada de chegança (Sebastião Cândido da Silva)
08-Maracatú rural – Baque solto (MarchaII) (Estrela da tarde)
09-Terno de Pífanos – Baião Trancelim (Grupo dos Irmãos Aniceto)
10-Terno de Pífanos – Marcha Trancelim (Grupo dos Irmão Aniceto)
11-Orquestra de Mamulengo – Baião (Alvorada)
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Grandes Sucessos da década de 50 (08/06/2011)
A década de 1950 foi um período de especial criatividade na música brasileira, incentivada, principalmente, pela idéia de que nossa música nacional estava em crise. A idéia da crise acirrava os debates, e colocava a música brasileira na pauta. Os anos 50 viram o crescimento da indústria fonográfica, o surgimento dos LPs e a diversificação dos ritmos que tocavam no rádio. O samba, música nacional por excelência desde o início do século XX, não era mais hegemônico, e dividia o espaço das rádios com rumbas, boleros, jazz, fox e marchinhas. O jazz se enfiava na música brasileira pelas mãos e instrumentos dos próprios músicos que, influenciados pelas Big Bands norte-americanas, não hesitavam em acrescentar o ritmo norte-americano ao seu repertório. Fora isso, o rádio, com seu enorme poder de difusão, começava a criar ídolos e celebridades ligados à música. Essa invasão de múltiplas influências sugeria que a música brasileira poderia estar retraindo. Só que, em realidade, os gêneros e os artistas de sucesso na década de 1930 estavam ainda na crista da onda. O samba era presença constante, tanto no rádio, quanto nas gravações, como também na imprensa. Se o samba predominava, estavam também no rádio o frevo, o baiãoe as marchinhas de carnaval. De fato, eram o samba-canção, o baião e as marchinhas de carnaval os líderes da popularidade no início dos anos 50, embora convivessem com o sucesso das Big Bands e dos boleros. É até interessante notar que alguns dos grandes cantores do rádio brasileiro, como Lupicínio Rodrigues, Herivelto Martins e Ataulfo Alves, alteravam o samba-canção para que ele se aproximasse do bolero, de modo que ele acabou assumindo uma forma híbrida, uma espécie de sambolero. A riqueza musical dos anos 50, em que conviviam os gêneros brasileiros (samba, choro, marchas, baião, frevo e outros), com outros estrangeiros, culminou no surgimento da bossa-nova, no final da década, mas isso já é outra história, que será contada em outra postagem. Por hoje, ouçamos esse disco, que tem samba, choro, marcha, guarânia e baião, fornecendo, portanto, uma amostra razoável da música brasileira da década de 1950. Destaco todas as músicas interpretadas por Ademilde Fonseca, a eterna rainha do chorinho, especialmente Galo Garnizé, de Antonio Almeida, Luiz Gonzaga e Miguel Lima.
Lado A
1-A fonte secou-Samba-(Monsueto Menezes – Tufi Lauar – Marcléo)
Raul Moreno c/ Astor e sua Orquestra
2-Hoje ou amanhã-Samba-(Norival Reis – Rutinaldo)
Joel e Gaúcho e seu Ritmo alegre
3-Sassaricando-Marcha-(Luiz Antonio – Oldemar Magalhães – Zé Mario)
Virginia Lane c/ Astor e Sua Orquestra
4-Pedacinho do Céu-Choro-(Waldyr Azevedo – Miguel Lima)
Ademilde Fonseca c/ Guio de Moraes e seus parentes
5-Galo garnizé-Choro-(Antonio Almeida – Luiz Gonzaga – Miguel Lima)
Ademilde Fonseca c/ Guio de Moraes e seus parentes
6-Delicado-Baião-(Waldyr Azevedo)
Ademilde Fonseca c/ Guio de Moraes e seu conjunto Melódico
7-Canção de amor-Samba(Elano de Paula – Chocolate)
Elizete Cardoso c/ Orquestra
Lado B
1-Meu Sonho é você-Samba-(Altamiro Carrilho – Átila Nunes)
Orlando Correia c/ Cópia e sua Orquestra
2-Escurinho-Samba-(Geraldo Pereira)
Cyro Monteiro c/ Conjunto
3-Índia-Guarânia-(José Asunción Flores – M. Ortiz Guerrero – Vs.José Fortuna)
Cascatinha e Inhana c/ Salinas e seu Conjunto Típico
4-Meu Primeiro amor-Canção-(Hermínio Gimenez – Vs. José Fortuna – Pinheirinho Junior)
Cascatinha e Inhana c/ Salinas e seu Conjunto Típico
5-Doce melodia-Choro-(Abel Ferreira – Luiz Antonio)
Ademilde Fonseca c/ Guio de Moraes e seus Parentes
6-Sistema nervoso-Samba-(Wilson Batista – Roberto Roberti – A.M. Jr)
Orlando Correia c/ Orquestra
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