Luiz Gonzaga nasceu em 13 de dezembro de 1912, na fazenda Caiçara, em terras do barão de Exu, e foi o segundo de nove filhos do casal Januário José dos Santos e Santana Batista de Jesus, que na pia batismal da matriz de Exu, recebe o nome de Luiz (por ser o dia de Santa Luzia) Gonzaga (por sugestão do vigário) Nascimento (por ter nascido em dezembro, também mês de nascimento de Jesus Cristo). Seu pai, o famoso velho Januário, era um conhecido tocador da sanfona de 8 baixos, e incentivava os filhos a aprenderem música. Luiz foi o que mais se aproximou da música. Aos 8 anos, já tocava nas festinhas em Exu, Araripe e municípios próximos. Quando completou 16 anos, já era muito conhecido de toda a região. Na década de 1920, Luiz tocou pela região do Araripe; em 1929, apaixonou-se por Nazarena, da família Saraiva. Mas o pai dela, o coronel Raimundo Delgado, não gostou da história, e ameaçou Luiz Gonzaga de de morte. Avisados pelo próprio Delgado, Januário e Santana aplicam uma surra em Luiz que, revoltado, decide fugir de casa, indo a pé até o Crato onde vende a sua sanfoninha por 80 mil réis. Solto no mundo, Luiz acaba se alistando no exército. Assim, viajou muito, como corneteiro do exército, com o apelido de "bico de aço".Saiu do exército e rumou para o Rio de Janeiro, e foi praticamente aí que iniciou sua vida artística. Importante é lembrar que o Rio de Janeiro, nesse período, era o lugar que aglutinava artistas de vários lugares do país; lá, então, havia a convivencia e a mistura de vários gêneros musicais. Além disso, era lá que estavam se instalando as primeiras gravadoras multinacionais, e era lá o centro da produção cultural. Então, o Rio era mesmo o lugar dos artistas. As primeiras apresentações de Luiz Gonzaga foram em casas noturnas e cabares no centro do Rio. Seu repertório, no início da carreira, era composto por valsas, tangos, blues e choros. Nada de baião, xaxado nem xote. Diz a lenda que foi um grupo de estudantes cearenses que provocou Luiz Gonzaga para que ele tocasse coisas do norte. Ele tocou Vira e Mexe e Pé de Serra. Foi esse encontro que desencadeou a mudança no repertório de Luiz, que voltou às suas origens nordestinas. Vira e Mexe foi vencedora, em 1940, do mais temido programa de calouros da TV brasileira, apresentado por Ary Barroso. Dizem que Luiz saiu ovacionado pelo público e pelos jurados. Foi graças a esse programa que a carreira artística de Luiz começou a acontecer. Outros contratos surgiram, inclusive para participar de gravações de discos. Nesse período, Luiz não se atrevia a cantar. Quando fazia isso, os produtores musicais e radialistas o reprimiam, porque achavam sua voz anasalada. Então, Luiz começou mesmo a se destacar como instrumentista, como sanfoneiro.
Mesmo com a idéia que predominava, entre os produtores e radialistas, de que a voz de Luiz Gonzaga não era boa porque não combinava com a estética vocal dos grandes cantores do rádio da época, como Vicente Celestino, Nelson Gonçalves e Orlando Silva, Luiz insistia em cantar. Ao mesmo tempo, não era fácil encontrar um bom intérprete para os ritmos nordestinos. Então, diante da insistência do próprio Luiz, ele acabou gravando a música Dança Mariquinha. Mesmo depois disso, a implicância com a voz de Luiz era tanta que, na Rádio Nacional, afixaram um cartaz na parede, com os seguintes dizeres: "Luiz Gonzaga está proibido de usar microfone de lapela". Mas ele insistiu muito, e gravou mais composições suas, que fizeram sucesso, e sua voz começou a ser ouvida na Rádio nacional também. Foi por esse período, em meados da década de 1940, que Luiz começou a botar para funcionar o seu ambicioso projeto, o de criar um gênero musical, inspirado no folclore de sua região natal, que mostrasse o nordeste para o resto do Brasil; além disso, ele sabia que, nessa época, havia grande migração de nordestinos para os grandes centros do país. Então, Luiz queria fazer uma música com a qual essas pessoas se identificassem. Saiu à procura de um parceiro que tivesse sensibilidade musical nordestina, e que fosse capaz de mostrar toda a beleza cultural do nordeste, para aguçar, nos migrantes, o orgulho de suas raízes. Encontrou Humberto Teixeira. Literalmente, eles "inventaram" um gênero, e apresentaram o baião para todo o Brasil. Luiz se identificava como um estilizador de um ritmo que já existia no nordeste; ele afirma que sua atuação se deu ao montar a formação instrumental - sanfona, zabumba e triângulo -, que era acessível ao meio urbano. Em 1972, ele disse o seguinte, em entrevista à revista veja: "o baião foi idéia minha e do Humberto Teixeira. Quando mostrei o baião para ele, surgiu a idéia de um gênero novo. Mas o baião já existia como coisa do folclore. Eu tirei do bojo da viola do cantador". Por isso, de fato, embora inspirado na tradição musical nordestina, Luiz Gonzaga inventou o baião como gênero da música popular brasileira, e podemos dizer que isso aconteceu em 1946. As suas letras evidenciam também essa intenção, de mostrar algo novo ao Brasil. Um de seus maiores sucessos, a música de nome "baião", foi feita em parceria com Humberto Teixeira, e ensina o que é o gênero e como dançá-lo.
A carreira de Luiz Gonzaga teve altos e baixos, momentos em que ele fez muito sucesso, e outros bem difíceis. Teve,também, grandes parceiros, como Humberto Teixeira e Zé Dantas. Luiz também foi padrinho de grandes nomes da música nordestina, como Dominguinhos e Marinês. Luiz Gonzaga faleceu no dia 02 de agosto de 1989, vítima de osteoporose, no Hospital Santa Joana, na capital pernambucana. Foi sepultado em seu município natal. Alguns meses antes, na última apresentação que ele fez na vida, no dia 06 de junho de 1989 no Teatro Guararapes do Centro de Convenções de Recife, Luiz Gonzaga disse: “Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão; que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor. Este sanfoneiro viveu feliz por ver o seu nome reconhecido por outros poetas, como Gonzaguinha, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Alceu Valença. Quero ser lembrado como o sanfoneiro que cantou muito o seu povo, que foi honesto, que criou filhos, que amou a vida, deixando um exemplo de trabalho, de paz e amor. Gostaria que lembrassem que sou filho de Januário e dona Santana. (...) Muito obrigado." Hoje, temos absoluta certeza de que ele nunca será esquecido. Luiz Gonzaga é, a cada dia, mais admirado e reverenciado. Ele é um dos pilares da música popular brasileira, uma de suas maiores expressões. Quanto mais o tempo passa, mais percebemos a genialidade de um homem cuja obra nunca deixará de ser atual.
O disco de hoje, gravado em 1980, tem grandes sucessos, como Estrada de Canindé e Siri Jogando Bola. Destaco a música Triste Partida, que virou um verdadeiro manifesto sertanejo na voz de Luiz Gonzaga.
Lado A
1-Mamulengo (Luiz Bandeira)
2-O homem da terra (Walter Santos – Tereza Souza)
3-A triste partida (Patativa do Assaré)
4-Siri jogando bola (Luiz Gonzaga – Zé Dantas)
5-Estrada de Canindé (Humberto Teixeira – Luiz Gonzaga)
Lado B
1-Lá vai pitomba (Luiz Gonzaga – Onildo Almeida)
2-O monte (maquinista e sacristão) (Luiz Bandeira)
3-Cananã (Venâncio – Aparício Nascimento)
4-O adeus da Asa Branca (Tributo a Humberto Teixeira) (Dalton Vogeler)
5-Cego Aderaldo (João Silva – P. Maranguape)
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