O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pernambuco do Pandeiro (11/07/2011)

Na madrugada do dia 09 de julho de 2011, nosso querido Pernambuco do Pandeiro fez sua passagem para o outro lado, depois de 86 anos absolutamente bem vividos. Ele sofria de diabetes, foi acometido por uma pneumonia, sofreu falência de múltiplos órgãos e não resistiu. Até pouco antes de adoecer, víamos sempre, em rodas de choro aqui em Brasília, cidade em que viveu por décadas, o velho homem, de baixa estatura, olhar vivo e capaz de fazer o diabo com um pandeiro na mão. A comunidade candanga do Choro tem muito a lhe agradecer, pois foi ele um dos fundadores do Clube do Choro. Em um dos momentos em que o Clube passou por dificuldades, Pernambuco chegou a vender uma coleção de passarinhos para angariar fundos para equipar a casa de shows. Esse disco da postagem de hoje é nossa homenagem a esse grande homem.


Inácio Pinheiro Sobrinho, o Pernambuco do Pandeiro, nasceu, como seu apelido indica, em Gravatá, Pernambuco, em 1924. Ele foi criado na Paraíba, na cidade de Lagoa da Rola de São Sebastião. Aos 12 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro com a família. Ele trabalhava como engraxate e tocava cavaquinho. Logo começou a se interessar pelo pandeiro. Além de tocar, ele impressionava a audiência fazendo malabarismos com o instrumento, sem perder o pulso da música. Na adolescência, morava no morro de São Carlos e freqüentava o ambiente boêmio da lapa. Aos 16 anos, participou de um programa de calouros da Rádio Mayrink Veiga, e acabou ganhando. A partir daí, passou a tocar em regionais de choro e a acompanhar cantores. Foi nessa época que ganhou o apelido de Pernambuco. Nos anos 40, Pernambuco acompanhou todo mundo: Araci de Almeida, Ângela Maria, Francisco Alves, Ari Barroso, Adoniran Barbosa. Ele fez parte dos regionais de Henrique Xavier Pinheiro, César Faria e Dona Paula (pais de Paulinho da Viola), Jacob do Bandolim, Claudionor Cruz, Benedito Lacerda. Ele tocou com Pixinguinha, Carlos Poyares, Waldir Azevedo, e muitos outros grandes músicos. Além do pandeiro, ele tocava caixeta, ganzá e zabumba. Embora tenha ficado conhecido como chorão, Pernambuco, assim como muitos outros músicos, atuava não só no choro e no samba, mas também no forró, principalmente porque os conjuntos regionais eram extremamente versáteis, além de serem formados por excelentes músicos, que davam conta de transitar entre diferentes gêneros.

Na década de 1950, Pernambuco criou seu próprio regional, do qual faziam parte Jorge e Nilton, nos violões de 7 e de 6, respectivamente, Ubiratan de Oliveira, no cavaquinho, e um jovem sanfoneiro, até então pouco conhecido, de nome Hermeto Paschoal. Com esse regional, gravou vários discos e excursionou pela Europa. Esse disco que nosso blog posta hoje para vocês é o último disco gravado pelo Regional de Pernambuco do Pandeiro, no ano de 1958. Ele acrescentou ao regional a tuba e o bombardinho, para dar ao regional a sonoridade de uma bandinha. Ele chamou o Mestre da Banda do Corpo de Bombeiros, chamado Agobá, para tocar o bombardinho, e José Américo, também dos bombeiros, para tocar a tuba. Além deles, o disco tem a participação do clarinetista Abel Ferreira, junto com o regional, formado por Pernambuco, Hermeto, Jorge, Ubiratan e Darli. O disco tem ritmos variados: já começa com um dobrado na primeira faixa do disco (No arraial de Santo Antônio, de Frederico Freitas e Júlio Dantas), com destaque para os metais, que deixam o regional com cara de bandinha. Tem uma polca típica (Polkinha Mineira, Faixa 3 do Lado A), de Abel Ferreira, que executa a música na clarineta. Esse disco, como o nome diz, embora tenha como base a instrumentação de um regional de choro, é um disco de forró.  Ele traz três músicas de Luiz Gonzaga (A Dança da ModaAssim Preto e Baião da Garoa), e mostra o lado compositor de forró de Pernambuco do Pandeiro, nas músicas Quando Vovô Era Menino (Pernambuco e Washington Fernandes) e Delirando (Pernambuco, Luiz Gaúcho e Rossini Pacheco).  Para terminar, não posso deixar de comentar o arranjo de banda de circo para São Paulo Quatrocentão, de Garoto e Chiquinho. Simplesmente genial e brasileiríssima a mistura de banda de coreto com regional de choro e trio de forró.
Sem dúvida, nesse momento, está acontecendo uma grande Roda de Choro no céu, com nosso querido Pernambuco fazendo mirabolâncias e malabarismos no pandeiro, ao lado de São Pixinguinha e de outros grandes músicos, seus companheiros de música e vida. Adeus, velho mestre!


Lado A

01-Arraial de Santo Antonio (Frederico de Freitas – Julio Dantas)
02-Quando vovô era menino (P. Sobrinho – Washington Fernandes)
03-Polkimha mineira (Abel Ferreira)
04-Delirando (P. Sobrinho – Luiz Gaucho Rossini)
05-São João do carneirinho (Guio de Morais – Luiz Gonzaga)
06-Noites de Junho (João de Barros – Alberto Ribeiro)

Lado B

01-São Paulo quatrocentão (Garto – Chiquinho)
02-Rio Antigo (Altamiro Carrilho)
03-No tempo do imperador (Guio de Morais)
04-A dança da moda (Luiz Gonzaga – Zé Dantas)
05-Assum preto (Humberto Teixeira – Luiz Gonzaga)
06-Baião na garôa (Luiz Gonzaga – Hervê Cordovil)



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