O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Canhoto e Seu Regional - É choro é samba é maxixe é sorongo (1960)

CANHOTO E SEU REGIONAL – É CHORO É SAMBA É MAXIXE É SORONGO

Os embriões dos conjuntos regionais foram os ternos de choro, formados por cavaquinho, violão e um instrumento solista, geralmente a flauta. O nome, regional, foi associado a esses grupos porque, ainda no início do século XX, grupos com essa formação instrumental se apresentavam no carnaval com vestimentas rurais, e com nomes que carregavam a idéia de serem conjuntos que tocavam música regional (tais como Turunas Pernambucanos, Turunas da Mauricéia). Daí passaram a ser chamados de conjuntos regionais. Mais tarde, foram acrescidos aos conjuntos regionais o pandeiro e, depois ainda, o violão de sete cordas. Assim, essa passou a ser a formação clássica dos conjuntos regionais: violão, violão de sete cordas, cavaquinho, pandeiro e os instrumentos solistas (que podiam ser um ou dois). Muito embora a origem dos regionais remonte às primeiras décadas do século XX, seu apogeu aconteceu depois, precisamente a partir dos anos 30. Foi no rádio que os regionais viveram seus dias de glória. Ouvidas por toda a gente, as rádios, nos anos 30, estavam com tudo, inclusive com dinheiro e condições para contratar e manter magníficos elencos de cantores e instrumentistas.  Os conjuntos regionais, muito versáteis, serviam para acompanhar cantores, faziam arranjos rapidamente, elaboravam introduções e intervenções instrumentais nas canções, além, é claro, de tocar divinamente o choro. Os regionais também faziam a música de fundo para os mais diversos programas, além de preencher, com música, as lacunas de tempo dos programas de rádio ao vivo.  Cada emissora de rádio fazia questão de ter um bom regional, cujos músicos eram badaladas celebridades da época.  Eram as seguintes as principais rádios atuantes no Rio de Janeiro nos anos 1930 e 1940, com seus respectivos regionais:
Rádio Guanabara: Gente do Morro e Jacob e Sua Gente
Rádio Transmissora: O Regional de Claudionor Cruz
Rádio Clube: Waldir Azevedo e Seu Regional
Rádio Tupi: Regional de Benedito Lacerda e Regional de Rogério Guimarães
Rádio Mayrink Veiga: Regional do Canhoto
Rádio Nacional: Regional de César Moreno e Regional de Dante Santoro
Rádio Mauá: Jacob e Seu Regional, Regional de Darly do Pandeiro e Regional de Pernambuco do Pandeiro

Esse período, de surgimento e ascensão dos regionais, viu também a consolidação do mais célebre dos regionais: o do Canhoto. Tudo começou no finalzinho dos anos 20, quando surgiu o Gente do Morro, conjunto formado pelo flautista Benedito Lacerda, pelo cavaquinista Waldiro Frederico Tramontano, e mais Maurino, Bernardo e Doidinho. Inspirada nas escolas de samba que iam surgindo no Rio de Janeiro, a concepção musical do Gente do Morro dava forte ênfase à percussão. Com o tempo, a as percussões foram cedendo espaço para as cordas e os sopros, e Benedito, espertamente, alterou o nome do grupo para Regional de Benedito Lacerda, que já era formado por Benedito Lacerda, na flauta, Gorgulho e Nei Orestes nos violões, Canhoto, no cavaquinho e Russo, no pandeiro. Gorgulho foi substituído por Carlos Lentine, que, por sua vez, foi substituído por Meira. Nesse mesmo período, Nei Orestes foi substituído por Dino (para tocar o violão de seis cordas). E foi assim que, em 1937, formou-se o mais importante, espetacular, colossal, ingente, retumbante e genial núcleo de acompanhamento da música brasileira, que durou meio século: DINO, MEIRA e CANHOTO. 

Em 1946, Benedito Lacerda convidou Pixinguinha para fazer parte de seu regional, fato que, além de ter sido importante para ambos os sopristas, foi crucial para Dino e para o modelo de conjunto de acompanhamento que estava sendo gestado. Pixinguinha, com o sax tenor, fazia, nas gravações, contrapontos à melodia executada por Benedito Lacerda, da mesma forma como seu mestre, Irineu Batista, décadas antes, fazia com seu oficleide. Dino ouvia atentamente, e seguia o mestre Pixinguinha nas cordas do violão. Quando Pixinguinha deixou o grupo, Dino sentiu falta do peso dos graves do saxofone. Ele sabia da existência do violão de sete cordas, que havia sido tocado por Tute anos antes. Inspirado nele, movido pelo desejo de cobrir os buracos da ausência do sax do Pixinguinha, encomendou seu violão de sete cordas, e começou a criar suas baixarias, que hoje são uma das características mais marcantes do choro.

Benedito Lacerda andava muito atarefado, viajava muito, tinha até um jatinho próprio, e estava deixando seu regional meio de lado. Assim, os três incríveis resolveram montar um conjunto próprio e chamaram outros solistas: Altamiro Carrilho, na flauta, e Orlando Silveira, no acordeom. Essa foi, então, a primeira formação do REGIONAL DO CANHOTO, nome que deram ao grupo: Dino, Meira, Canhoto,  Altamiro Carrilho, Orlando Silveira e Gilson de Freitas (Ave Maria!).  Eles tocaram com os melhores cantores, acompanharam todo mundo. Tanto que dizem que as gravadoras organizavam as agendas de suas estrelas de acordo com a disponibilidade do Regional do Canhoto para gravar.
O Regional teve ainda outras formações. Saíram Gilson e Altamiro, e entraram Jorginho (irmão de Dino), no pandeiro, e o flautista Arthur Athaíde, que ficou muito pouco tempo. Por fim, o Regional do Canhoto ganhou a marcante presença do flautista Carlos Poyares, que permaneceu até o fim do grupo.

Eis então, finalmente, que chegamos a esse disco da postagem de hoje, gravado em 1960, quando o Regional do Canhoto tinha: Dino, Meira, Canhoto, Jorginho, Orlando Silveira e Poyares, além da participação de Pedro Santos, o Pedro Sorongo, que compôs algumas músicas e também tocou percussão.

Fontes consultadas:
Sérgio Prata. A História dos Regionais. Disponível em http://www.samba-choro.com.br/fotos/porexposicao/exposicao?exposicao_id=1.

Remo Tarazona Pellegrini. Análise dos Acompanhamentos de Dino Sete Cordas em Samba e Choro. Dissertação de Mestrado, UNICAMP, 2005. Disponível em http://www.violaobrasil.mus.br/wp-content/uploads/pdf/M_Unicamp_2005_PELLEGRINI-Remo_Tarazona--Analise_dos_acompanhamentos_de_Dino_Sete_Cordas_em_Samba_e_Choro.pdf.



Lado A

01 - Cheio de moral (Jota Santos)
02 - Sorongaio (Pedro Santos)
03 - Chora cavaquinho (Dunga)
04 - Você se lembra (Orlando Silveira) 
05 - Chorei Benedicto Lacerda - Pixinguinha)
06 - Apêrto de mão (Harandino Silva – Jaime Florence)

Lado B

01 - Nos bons tempos (Carlos Poyares)
02 - Sorongando in Madrid (Pedro Santos)
03 - Se você visse (Harondino Silva – Del Loro)
04 - Boliçoso (Carlos Poyares)
05 - Inferno verde (Pedro Santos)
06 - Homenagem à Vitória (Carlos Poyares)

3 comentários:

Celso Neves disse...

Cacai, baixei este disco, mas na hora de descompactar esta dando erro.De uma olhada ai. Grato... Abraço.

Cacai Nunes disse...

Olá Celso Neves,

Acabei de baixar o arquivo aqui e correu tudo normal na descompactação.

Abraço
Cacai

Antônio F. Queiroga. disse...

São discos que fazem a história da nossa música.