O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Monarco - 1976

Texto: Gabriela Tunes

Monarco nasceu Hildemar Diniz, no dia 17 de agosto de 1932, no bairro do Cavalcante, no Rio de Janeiro. Ele conta que desde criança tinha esse apelido, mas era Monaco, sem o "r", e que ele ganhou em uma brincadeira de criança, e nunca mais perdeu o apelido. 

Quando ele se mudou para o bairro de Oswaldo Cruz, o reduto da Portela, o R entrou no apelido, e ele virou Monarco. Ele tinha 12 anos nessa época, e já fazia uns sambinhas, uns versinhos que, segundo ele, eram mal acabados. Ele acredita que a rima ele aprendeu a fazer com o pai, um mineiro de Ubá que gostava da fazer poesias. Em Oswaldo Cruz, ele conheceu os bambas da Portela, e ficava observando os sambas e sonhando em um dia fazer um samba para a Portela. 

O sonho se realizou até rápido, aos 17 anos, quando ele fez o primeiro samba. Os bambas receberam o samba com as seguintes palavras solenes: "Esse garoto aí... temos que aproveitar esse garoto. Tá bom, canta de novo. Ó, tá vendo que coisa bonita?".E foi assim que Monarco entrou para a ala de compositores da Portela. No ano seguinte, a escola desfilou com um samba dele chamado Retumbante Vitória. Monarco, então, muito jovem já se alinhava com os compositores mais antigos da escola. Tanto é que, quando a Portela decidiu montar oficialmente uma ala da Velha Guarda, Monarco tinha 37 anos e foi colocado lá. Então, houve uma certa polêmica. Mas o pessoal da Velha Guarda se identificava com ele, compunha com ele, e pediu para deixarem o jovem Monarco lá. 

Dotado de voz potente, foi chamado para gravar o primeiro registro da Velha Guarda da Portela, tendo a honra de ter sua composição elevada à nome do álbum: "Portela, passado de Glória". Só que, naquela época, podia-se viver no samba, com o samba e para o samba. Mas não DE samba. Monarco trabalhava como peixeiro, e, no dia da gravação, não teve como comparecer no estúdio. Ele ficou arrasado. Mas pouco tempo depois, no começo dos nos anos 80, ele botou sua voz nas gravações seguintes da Velha Guarda, sendo intérprete em várias faixas. 

Como compositor, Monarco é parte essencial da história do samba. Sozinho ou com os parceiros portelenses, teve sambas gravados por todos os grandes intérpretes do gênero, como João Nogueira, Martinho da Vila, Roberto Ribeiro, Beth Carvalho, Clara Nunes, Paulinho da Viola, e muitos outros. Na década de 1980, Monarco fez parceria com o compositor Ratinho, e dela surgiram sambas que fizeram muito sucesso, como Coração em Desalinho e Vai Vadiar, que foram gravadas por Zeca Pagodinho. Monarco é também pai de Mauro Diniz, cavaquinista que é atualmente uma importante referência para o instrumento. 


Em 1995 ganhou um prêmio sharp com o CD "A Voz do Samba", e em 1999 teve várias músicas suas gravadas pela cantora Marisa Monte, no álbum Tudo Azul, em que ela homenageia a Portela. Fora tudo isso, Monarco segue derramando sua música e sua sabedoria para dentro dos nossos ouvidos, mais vivo do que nunca.

Aqui, disponibilizamos um LP de 1976, em que o Monarco nos traz algumas de suas composições acompanhado de um time de primeira com Zé Menezes, Wilson das Neves, Marçal, Luizão, Abel Ferreira, Dino 7 Cordas e tantos outros.





Um comentário:

BerGobbi disse...

Te conheço de Brasília! Saudades do chorinho com você ali no 400 e eu no Mendes tomando uma gelada. Beijos da Grécia.