O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Mãe Menininha do Gantois (09/03/2011)


Escolástica Maria da Conceição Nazaré nasceu 43 anos depois da proibição do tráfico negreiro e 6 anos depois da abolição da escravatura. Menininha, como foi chamada desde pequena, e que ela mesma diz não saber a razão, nasceu dentro do candomblé. Brincava de construir bonecos com folhas de bananeira e dar a eles os nomes dos orixás; brincava também, na tenra infância, de jogar búzios na areia. De fato, ela descendia de uma linhagem de mulheres fortemente ligadas ao Candomblé. Sua bisavô, Maria Júlia da Conceição, fundou, no século XIX, o Ilê Iya Omin Axé Iyamassê, que em ioruba significa Casa da Mãe das Águas, MS que ficou conhecido como o terreiro do Gantois (tinha esse nome porque se localizava em terras de um francês, de nome Gantois, que cedeu o espaço para o terreiro). Sua grande mestra foi a tia-avó, Maria Pulchéria, que substituiu Maria Júlia como ialorixá (mãe-de-santo) no Gantois. As duas ialorixás que antecederam Menininha no Gantois eram também mulheres fortes e de grande sabedoria. Maria Júlia morreu, dizem, quando quis, com mais de 110 anos. Maria Pulchéria tinha, além de profundos conhecimentos da religião, contatos com intelectuais e artistas da elite, que a tornavam bastante prestigiada (podemos citar Nina Rodrigues, Manoel Querino e outros). Então, Mãe Menininha teve uma escola espetacular. Fora isso, freqüentou também a escola formal no primário e aprendeu a costurar, e não tinha sequer idéia que o destino lhe guardara ser a sucessora da poderosa Maria Pulchéria. Então, ela casou-se, teve duas filhas, e pretendia cuidar de sua vida. Quando Maria Pulchéria faleceu, Maria da Glória, mãe de Menininha, seria sua sucessora natural. Mas ela faleceu também, inesperadamente. Depois de algumas confusões, idas e vindas, Menininha acabou assumindo o Gantois, sabendo que isso significaria uma vida de renúncia e sacrifício.No dia de sua confirmação como ialorixá, , oito dias após completar 28 anos,Menininha anteviu seu futuro. Ela disse: Quando meu tio colocou sua mão sobre a minha e pôs o axé, a emoção que senti ninguém poderá jamais descrever. Chorei todas as lágrimas do meu corpo. A missão que assumia era pesada demais para mim, mas tive que aceitar. A vida de Meninha foi de intenso trabalho. Para respeitar a tradição do candomblé, resolveu morar separado de seu marido: ela no terreiro, com as duas filhas, e ele em uma casa em frente. Ela, suas filhas de santo, o marido e tantos colaboradores trabalhavam duro para manter o Gantois. Além disso, ela trabalhava para sustentar as filhas: foi baleira, quitandeira, dona de restaurante. Ela liderou o terreiro por 64 anos, até morrer, aos 92 anos. Iniciou mais de dois mim filhos e filhas de santo. Foi amiga e conselheira de artistas e intelectuais famosos, como Dorival Caymmi, que lhe dedicou uma belíssima canção (Oração à Mãe Menininha). Esses contatos contribuíram para que o candomblé ampliasse sua aceitação na sociedade. Menininha lidou de forma suave e sábia com o preconceito e a perseguição que acompanharam o candomblé por quase toda a sua história. As religiões afro-descendentes foram duramente perseguidas pela polícia, e, na Bahia, local onde essas religiões têm grande expressão, foi somente em 1976 que os terreiros ficaram liberados da necessidade de autorização da Secretaria de Segurança Pública. Ou seja, foi somente na década de 1970 que o candomblé deixou de ser caso de polícia. Em 2002, o Gantois foi tombado como patrimônio histórico da Bahia. Sem dúvida, o carisma e a sabedoria de Menininha contribuíram significativamente para a redução do preconceito contra as religiões afro-brasileiras. Esse disco, gravado em 1974, é um registro histórico, tanto da música do candomblé, quanto do depoimento dessa grande líder espiritual.

Lado A

1-Entrevista-depoimento com Mãe Menininha do Gantois
 (Entrevista realizada por Ramalho Neto)
2-Agueré de Oshosi (Atabaques)
3-Hamunha (Atabaques)
4-Oração a Mãe Menininha (Dorival Caymmi – Reginaldo Bessa)
Lado B
1-Ilejá de Oshun (Atabaques)
2-Alujá de Shangô (Atabaques)
3-Ibí de Oshalá (Atabaques)
4-Depoimento do Sr. Manoel Queiroga

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