O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Zé Côco do Riachão (10/06/2011)

Zé Côco do Riachão nasceu em Brasília de Minas, em Minas Gerais, em 1922, com o nome de José dos Reis Barbosa dos Santos. Além de tocador, ele era construtor de violas e rabecas, e ficou famoso pela qualidade dos instrumentos que construía. Em 1988, o pesquisador José Edward publicou um livro com partituras de músicas de Zé Côco, e com trechos de entrevistas que ele fez ao velho mestre.  Em uma delas, Zé Côco explica como aprendeu a tocar: Comecei a tocá sem insino de ninguém, pruque o véio dava o instrumento, mais num insinava não, que ele num tinha tempo. Antonce eu se virava suzim. Ia iscutano aqueles violêro que tinha lá e aprendeno, cum coisa até que eu já tinha aquilo no sentido. Peguei fazeno imitação deles inté que aprendi de vez. Daí, o garoto acompanhava os pais tocando nas Folias de Reis. E foi lá, socado no interior de Minas, que Zé Côco foi criando seus critérios e aperfeiçoando sua técnica na rabeca e na viola até se transformar em um instrumentista de virtuosismo impressionante.

A primeira gravação em disco, porém, ocorreu somente em 1980, quando o violeiro, compositor e produtor cultural Teo Azevedo conheceu Zé Côco. Foi ele, inclusive, que lhe deu o apelido de Riachão. Juntamente com o jornalista Carlos Felipe, conseguiu patrocínio para o lançamento do primeiro LP, de nome “Brasil Puro”, que fez o temido crítico musical José Ramos Tinhorão se derramar em elogios. Não só Tinhorão, mas toda a crítica considerou a gravação do LP um dos feitos mais importantes no âmbito da cultura popular brasileira. O segundo disco de Zé Côco do Riachão é justamente esse da postagem de hoje, que também foi recebido com espanto pela crítica e pelo público. Não poderia, também, ser diferente. Ouvindo o disco, percebemos que ele desenvolveu, na viola, uma técnica própria que lhe permitia solar e acompanhar ao mesmo tempo. O disco tem calango, côco de viola, lundu, chula campeira e guaiano, modalidades do cordel mineiro executadas nas Folias de Reis. Depois desse, Zé Côco lançou mais um LP, Vôo das Garças. Ele faleceu em 1988. Eis, então, o raro registro de um gênio da música brasileira.



Lado A

01-Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
02-Lundu Sapateado (DP recolhido e adaptado por Zé Côco do Riachão)
03-Saudade dos netos (Zé Côco do Riachão)
04-Dança das cobras (Zé Côco do Riachão)
05-Thiago cadê Ilana (Zé Côco do Riachão)
06-Bate barriga (Zé Côco do Riachão)

Lado B

01-Papagaio (DP recolhido e adaptado por Zé Côco do Riachão)
02-Saudade de Mirabela (Zé Côco do Riachão)
03-Rala bucho (Zé Côco do Riachão)
04-Toada de Guiano (Zé Côco do Riachão)
05-Limpa banco (Téo Azevedo)
06-Carro de boi (Zé Côco do Riachão)

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Conheci Zé Coco do Riachão ontem,através de um artigo sobre José Ramos Tinhorão que sempre o elogiava.