O disco de hoje faz parte de uma iniciativa fundamental para a manutenção de algumas tradições folclóricas brasileiras, principalmente a capoeira. A mentora da iniciativa é Emília Biancardi, uma etnomusicóloga especializada na música brasileira, com ênfase naquelas ligadas a festas, rituais e folguedos, como a capoeira, o candomblé, o maculelê, o samba de roda. Ela nasceu em Salvador, Bahia, e viveu sua infância e parte da adolescência em Vitória da Conquista, interior do Estado. Lá, teve os primeiros contatos com os folguedos populares que vieram a ser objeto de seu interesse por toda a vida. Em 1962, foi nomeada professora de canto do Instituto Normal Isaías Alves, o colégio ICEIA. A responsável pela nomeação foi Maria Rosita Salgado Góes (que fez as adaptações das músicas desse disco). No ICEIA, Emília Biancardi criou o grupo "Viva Bahia", o primeiro grupo parafolclórico do Brasil. O grupo estreou um espetáculo em 1963, na Semana de Música. Eles criaram coreografias para a puxada de rede, para o maculelê, para o candomblé e para a capoeira, inspirados nos passos originais dessas manifestações, e utilizando sua música. Biancardi agregou, para concepção e realização do espetáculo, mestres portadores de conhecimento sobre cada uma dessas tradições: Mestre Popó (José de Almeida Andrade, de Santo Amaro), para o maculelê; Negão Doni (Gilberto Nonato Sacramento), Dona Coleta de Omolu (Clotildes Lopes Alves) e Seu Edson (Edson Santos) para o candomblé; Mestre Acordeon (Ubirajara de Almeida) e Camisa Roxa (Edivaldo Carneiro dos Santos) para a capoeira. O Viva Bahia fez turnê pelo Brasil e exterior, divulgando a capoeira, o maculelê, o candomblé e a puxada de rede. Interessante é constatar que os grupos contemporâneos de capoeira trazem o maculelê, a puxada de rede e o samba de roda em suas práticas; os capoeiristas, nos rituais de ingresso, formaturas e graduações, costumam realizar apresentações onde o maculelê, a puxada de rede e o samba de roda têm lugar. Diz-se que a inclusão deles no universo da capoeira se deu justamente em função dos espetáculos montados por Emília Biancardi e pelo grupo Viva Bahia. Pode-se dizer, então, que Emília Biancardi criou uma tradição, a de agregar o maculelê, o samba de roda e a puxada de rede aos rituais da capoeira.
Em 1968, o espetáculo realizado no Teatro Castro Alves, em Salvador deu origem a este disco. O disco foi gravado em mono, e a captação do som está longe de ser ideal. O lado A tem apenas uma faixa, com diversas cantigas do candomblé. O lado B tem duas faixas, uma com corridos e chulas da capoeira, emendados um no outro, e que até hoje fazem parte das rodas de capoeira; a outra faixa apresenta sambas de roda, tocados com berimbau, além, é claro, de outros instrumentos. O samba de roda é executado conforme os capoeiristas tocam atualmente (observem que esse samba de roda é diferente daquele que hoje é realizado no recôncavo baiano, por grupos como os Filhos da Pitangueira). Esse disco tem, portanto, inestimável valor histórico, porque registrou um momento importante para a capoeira e para outros folguedos praticados na Bahia.
Lado A
1- Candomblé de kêto (Rec. Adapt. Por Maria Rosita Salgado Góes)
Lado B
1- Samba de roda (Rec. Adapt. Por Maria Rosita Salgado Góes)
2- Capoeira (Rec. Adapt. Por Maria Rosita Salgado Góes)
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