O Movimento Armorial foi uma das iniciativas mais interessantes em termos de proteção e valorização da cultura popular. O movimento Armorial foi antecedido por outros movimentos de teor semelhante. Foram eles: a Escola do Recife (final do séc. XIX e início do XX), o Movimento Regionalista de 1926, a Sociedade de Arte Moderna do Recife, em 1948, e o Movimento de Cultura Popular em 1961. O Movimento Armorial encontra raízes também na Semana de Arte Moderna de 1922. Os fundadores do Movimento Armorial são Ariano Suassuna e Cussy de Almeida. Ele foi iniciado oficialmente no dia 18 de outubro de 1970, com a Orquestra Armorial de Câmara. Ariano Suassuna, explica o nome “Armorial” da seguinte forma:
“Em nosso idioma, “armorial” é somente substantivo. Passei a empregá-lo também como adjetivo. Primeiro, porque é um belo nome. Depois, porque é ligado aos esmaltes da Heráldica, limpos, nítidos, pintados sobre metal, ou por outro lado, esculpidos em pedra, com animais fabulosos, cercados por folhagens, sóis, luas e estrelas. Foi aí que, meio sério, meio brincando, comecei a dizer que tal poema ou tal estandarte de cavalhada era “armorial”, isto é, brilhava em esmaltes puros, festivos, nítidos, metálicos e coloridos, como uma bandeira, um brasão ou um toque de clarim. Lembrei-me, aí, também, das pedras armoriais dos portões e frontadas do Barroco brasileiro, e passei a estender o nome à Escultura com a qual sonhava para o Nordeste. Descobri que o nome “armorial” servia, ainda, para qualificar os “cantares” do Romanceiro, os toques de viola e rabeca dos Cantadores- toques ásperos, arcaicos, acerados como gumes de faca-de-ponta, lembrando o clavicórdio e a viola-de-arco da nossa Música barroca do século XVIII (Fonte: Suassuna, 1974, O Movimento Armorial. Recife, Universidade Federal de Pernambuco, Ed. Universitária, 1974; p.9)”.
O Movimento abarca uma série de manifestações artísticas, como pintura, música, literatura, cerâmica, dança, escultura, tapeçaria, arquitetura, teatro, gravura e cinema. Para Ariano Suassuna, o folheto de cordel é a arte que consegue sintetizar todo o movimento, porque possui três tipos de arte ligadas a ele: a arte plástica, que é a xilogravura da capa; a literatura e a música, porque o cordel pode ser um canto, acompanhado de viola ou rabeca.
Na música, o Movimento tem expressão nas obras de Antonio José Madureira, Clóvis Pereira, Cussy de Almeida e Jarbas Maciel. Também aderiram ao movimento: Capiba,
Guerra Peixe, Marlos Nobre e Camargo Guarnieri. Com a ajuda do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco, Ariano trazia, do interior do estado, rabequeiros, violeiros e ternos de pífanos, e, a partir deles, eram selecionados os temas que serviriam de inspiração para a Orquestra Armorial. Os temas eram estudados, alterados, e então gravados. Por ser formação orquestral, e pelo método de composição utilizado, a música armorial se aproxima da música erudita. Mas, se levados em consideração a origem dos sons, a própria instrumentação e os temas tocados, ela é muito mais próxima da música popular nordestina. No fundo, não é popular nem erudita, é armorial, um modo de fazer música único, autêntico e belo.
A Orquestra Armorial de Câmara é uma das primeiras expressões do Movimento Armorial. O seu concerto inaugural foi no dia 21 de agosto de 1970 (meses antes da inauguração oficial do movimento. A Orquestra era vinculada ao Conservatório Pernambucano de Música. Era regida por Cussy de Almeida e tinha como spalla o chileno Rafael Garcia. Sua formação se inspirou no terno de Mestre Ovídio, composto de dois pífanos e duas rabecas. A Orquestra tinha, então, duas flautas, representando os dois pífanos do terno, um violino e uma viola de arco, representando as rabecas e a zabumba.
Mas houve uma cisão no Movimento Armorial, deflagrada por um desentendimento entre seus fundadores, Ariano Suassuna e Cussy de Almeida. Suassuna sempre desejou que a Orquestra tivesse instrumentos realmente populares, como pífano e rabeca, e Cussy resistia a isso, argumentando que os instrumentos eruditos davam mais uniformidade à música, principalmente porque possuem afinação mais precisa. Então, Ariano fundou o Quinteto Armorial, e Cussy seguiu com a Orquestra Armorial. Esse disco, gravado em 1979, traz a concepção dele do Movimento Armorial; então, ele tem um som bem orquestral. Destaco a faixa 1 do lado B, Mulher Rendeira.
Lado 1
1- Asa Branca (Luiz Gonzaga-Humberto Teixeira)
Versão orquestral Cussy de Almeida
2- Glória (Cussy de Almeida)
3- Dança de índios (Waldemar de Almeida)
Versão orquestral de Duda e Cussy de Almeida
4- Galope de cavalhada (José T. de Amorim)
Versão orquestral de Duda
Lado B
1- Mulher rendeira (D.P)
Versão orquestral de Radamés Gnatalli especial para Orquestra Armorial.
Versão orquestral de Radamés Gnatalli especial para Orquestra Armorial.
2- Cirandância (Marcus Accioly-Cussy de Almeida)
3- Galope a beira-mar (José T. de Amorim)
Versão orquestral de Duda
4- Mandacaru (Henrique Annes-B. Wolkoff)
2 comentários:
Mais uma vez parabenizo pelo belo trabalho desenvolvido neste blog. Grande abraço!
Realmente um grande disco, cuja postagem merece os maiores elogios. Aproveitando a deixa, você não teria os demais discos da Orquestra Armorial? Seria demais. Abs.
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