O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Marinês e sua gente - A volta da cangaceira (10/08/2011)

A Rainha do Xaxado, ou Inês Caetano de Oliveira ou, como ficou conhecida, Marinês, é uma das vozes mais importantes da música nordestina. Nascida em 1936, em São Vicente Ferrer, Pernambuco, Marinês era filha de um ex-cangaceiro do bando de lampião e de uma dona de casa. Ainda criança, mudou-se para Campina Grande, onde tomou contato com a música de Luiz Gonzaga, que passou a reverenciar.  Ainda com 10 anos de idade, começou a cantar em programas de calouros, e já impressionava a audiência. Em um dos primeiros que participou, vencedora, levou para casa, feliz da vida, um sabonete eucalou. Rapidinho, até porque sua família não era muito abonada, e ela era cantora extremamente afinada, começou a trabalhar na Rádio Borborema, em Campina Grande. Foi lá que conheceu o sanfoneiro Abdias, também contratado da rádio, com quem se casou aos 14 anos. O casal formou uma dupla, depois juntou mais um zabumbeiro e estava formado um trio que começou a rodar pelo interior nordestino fazendo pequenas apresentações. Mas foi em 1955 que aconteceu algo crucial na vida de Marinês: ela conheceu Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que, nessa época, já tinha ouvido falar dela. Sobre esse encontro, ela disse uma vez: "Foi  quando eu fiz um show em  Propriá (Sergipe) e Pedro Chaves, o prefeito na ocasião, apaixonado  por Luiz Gonzaga , ofereceu um busto na praça. Eu  e meu marido dissemos que tínhamos muita vontade de conhecê-lo  pessoalmente. Ele,  então, nos contrata para fazer  um show justamente no  dia que Gonzaga ia inaugurar a Praça. Ele nos botou num apartamento junto do apartamento do   Gonzaga,  porta com  porta.  Quando  chegamnos lá, Luiz Gonzaga já estava sabendo que  tinha essa  cangaceirinha, como  ele me chamava, cantando as músicas dele. Quando o Pedro Chaves  disse: a Marinês  está  aí. Ele bateu  em nossa porta e disse: -Vocês são meus convidados  para comer comigo na mesa.  Eu tremia, nem comi direito,  nervosa com o impacto da presença, uma coisa que eu sonhava. Almoçamos e ele disse:  eu vou lhe ensinar a  dançar xaxado  porque eu estou precisando de uma rainha do xaxado. Tenho  a princesinha do baião, que era Claudete. Aí ele foi dançar comigo". Gonzagão passou a apadrinhar Marinês e seu grupo até que, em 1956, incorporou-os à sua produção. Acompanhando Luiz Gonzaga ficaram, então, Abdias no agogô (ele tocava sanfona quando Luiz dançava), Zito Borbortema no pandeiro, Marinês no triângulo e Miudinho na  zabumba. Pensem no que era isso, minha gente! Falando em minha gente, foi em 1957 que, ao se apresentar no Programa do Chacrinha, quando o Velho Guerreiro perguntou para ela, referindo-se ao seu grupo: - Quem são esses a’i?; Ela: - São minha gente!; Chacrinha, então, batizou o grupo Marinês e Sua Gente. Ela gravou cerca de 50 LPs em toda sua carreira. Ela faleceu em 2007, vítima de um AVC.
Esse disco que trago para vocês, gravado em 1975, é da época em que Marinês andava namorando o Carimbó; a música Carimbó do Marajó foi, de fato, um grande sucesso, e ajudou na divulgação do gênero nortista para além das fronteiras da Amazônia. Marinês forma, junto com Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, a tríade sagrada do forró. Ela é referência obrigatória para todas as cantoras de verdade que surgiram depois dela, porque foi uma das maiores intérpretes brasileiras. Acredito que só não é mais conhecida porque era nordestina, mulher e sempre cantou baião, xote, côco, carimbó. Ou seja, ela estava ligada sempre a tudo o que não sucumbe a modismos, e a muitas coisas que despertam preconceitos. Sua resistência e fidelidade à música que amava a tornam ainda maior e mais admirável! Viva Marinês, para sempre!


Lado A

1-Ladeira do penar   (Anastácia - Dominguinhos
2-Sanfoneiro pé de serra (Anastácia - Dominguinhos)
3-Tudo é bom e nada presta (Cecéu)
4-Teu amor é uma chama  (Antonio Barros)
5-Não cheguei pro seu nariz  (Cecéu)

Lado B

1-Tema do juízo final (Antonio Barros)
2-São João Bonito (Anastácia - Dominguinhos)
3-Caçador de tatú (Cecéu - Carrapeta)
4-Paxá de meia tijela   (Jota Lima)
5-Carimbó do Marajó  (Aluisio – Toninha)
6-Cada lado um galho  (Brito Lucena – Ademar Caetano)


2 comentários:

Miguel Catarino disse...

Parabéns Acervo Origens pelo excelente trabalho de divulgação da música brasileira. AVISO: O arquivo que estou tentando baixar não está mais disponível.

Cacai Nunes disse...

Obrigado, Miguel, pelo alerta.
O link foi atualizado.
Abraço