O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Zé Keti - Sucessos (05/10/2011)

Zé Keti nasceu José Flores de Jesus, no Rio de Janeiro, no dia 16 de setembro de 1921. Se fosse vivo, teria completado 90 anos recentemente. O Zequinha, como era conhecido na infância, era neto de um flautista e de um pianista, e filho de um sergipano, que trabalhava na Marinha e, nas horas vagas, tocava cavaquinho. O Zequinha, desde criança, encantava-se com a música, e foi ainda criança que sofreu a primeira grande dor, a perda do pai. Mudou-se, então, com sua mãe, para a casa do avô, um homem apreciador de festas e serestas, que gostava de reunir amigos para beber, comer, cantar e tocar.  Entre eles, estavam, evidentemente, célebres nomes do samba e do choro. Zequinha vivia tudo isso observando, quietinho, sempre quietinho, pelos cantos. Então, o povo começou a chamá-lo de Zé Quietinho, que virou Zequéti, e como é muito chique ter a letra K no nome, ele acabou assinando, mais tarde, como Zé Kéti. Ainda na tenra infância, ele perdeu o avô, e mudou de casa de novo. No início do curso ginasial, ele largou a escola e foi trabalhar. Na vida de fazedor de bicos, ele encontrava tempo para espiar os sambas em Oswaldo Cruz, e, numa dessas, foi parar na Mangueira. Por azar da Mangueira, nesse dia, ele viu uma briga na escola, e acabou optando pela Portela. Adolescente, ele já compunha, mas não mostrava os sambas para ninguém. Ao completar 18 anos, ele já mostrava algumas de suas composições em rodas boêmias. Mas, exatamente aí, no ano de 1940, ele entrou na Polícia Militar, e se afastou do samba. Zé Keti retornou à Portela em 1945, para integrar o grupo de compositores. Em 1946, tem seu primeiro samba, Vivo Bem, gravado por Ciro Monteiro. Zé Keti permaneceu quase dez anos na Portela, mas, em 1954, foi acusado de plagiar e roubar músicas. Ele largou a Portela, e foi compor na União do Vaz Lobo. Nesse período, ele compôs A Voz do Morro, seu maior sucesso. Nessa época, também, Zé Keti caiu na graça do cineasta Nelson Pereira dos Santos, que incluiu músicas de Zé Keti nas trilhas sonoras de seus filmes, e, em 1957, dirigiu um longa-metragem, de nome Rio Zona Norte, sobre a vida e obra de Zé Keti. Em 1960, ele retornou à Portela, e começou a participar ativamente do Zicartola. Em 1962, juntamente com Elton Medeiros, Nelson Sargento, Paulinho da Viola, Anescar do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, Oscar Bigode e Zé Cruz, formou o grupo A Voz do Morro. Eles gravaram três LPs que viraram referências do samba. Em 1964, ele participou do show Opinião, um espetáculo cênico musical, que abordava questões políticas e sociais da sociedade brasileira, e, assim, acabou se transformando em um símbolo da resistência à ditadura que começava no país. No Opinião, Zé Kéti interpretava o favelado; João do Valle, o migrante nordestino, e Nara Leão, a menina da Zona Sul. Na montagem do espetáculo, ele apresentou três sambas: Opinião, Diz que Fui Por Aí e Acender as Velas. Para o carnaval de 1967, ele compôs a marcha-rancho Máscara Negra, que foi, inclusive, objeto de ações judiciais, em que a viúva de Desdedith Pereira de Matos reclamava, para o marido falecido, a autoria da canção. Em 1969, a decisão judicial reconheceu a autoria de Zé Kéti, baseada na coerência que Máscara Negra guardava em relação às outras composições de Zé Keti. Na década de 1970, Zé Keti assistiu à retração do samba, do choro e de outros gêneros nacionais, concomitantemente à ascensão do rock, do pop e de outros gêneros estrangeiros. Tentou montar alguns negócios, no ramo de transportes marítimos e gastronomia, mas nada deu muito certo. Mudou-se, até, para São Paulo, em 1980, com esse intuito, e tentava ainda, junto com os empreendimentos comerciais, reerguer a carreira de músico compositor. Em 1987, sofreu seu primeiro derrame cerebral. Na década de 1990, inicia-se a “redescoberta” da música brasileira, e Zé Keti é convidado a participar da remontagem do Opinião e recebe vários prêmios, condecorações e homenagens. Em 1999, quando morreu sua ex-esposa e o grande amigo Carlos Cachaça, ele entrou em depressão. Ordenou ao corpo que parasse de funcionar, e morreu de falência múltipla de órgãos, no dia 14 de novembro de 1999.
O disco da postagem de hoje, gravado em 1967, foi o primeiro disco solo de Zé Keti que, ao contrário da prática da época, quando grandes compositores eram gravados pelos cantores do rádio, e nunca punham suas próprias vozes nas gravações, tem Zé Keti como intérprete. Além dos inegáveis sucessos Máscara Negra, Cicatriz, Diz que Fui Por Aí e Opinião, o disco tem umas coisas estranhas, como Prece de Esperança, Viver! e Vestido Tubinho, e coisas magníficas pouco conhecidas: Poema de Botequim, Queixa, Favelado, e a obra-prima Mascarada, feita em parceria com Elton Medeiros.



Lado A

01-Viver (Zé Keti)
02-Prece de esperança (Zé Keti)
03-Máscara negra (Zé Keti – Pereira Mattos)
04-Cicatriz (Zé Keti – H. Belo de Carvalho)
05-Opinião (Zé Keti)

Lado B

01-Mascarada Zé Keti – Heiton Medeiros)
02-Poema de botequim (Zé Keti)
03-Queixa (Zé Keti – Sidnei Miller – Paulo Thiago)
04-O favelado (Zé Keti)
05-Vestido tubinho (Zé Keti)
06-Diz que fui por aí (Zé Keti – H. Rocha)

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