Texto: Gabriela Tunes
Antônio Honório da Silva, ou
Antenógenes Silva - peço licença para uma questão intrigante: qual seria a
razão pela qual uma pessoa que se chama Antônio resolve adotar
Antenógenes como nome artístico? Não consigo imaginar a resposta.
Voltando ao
Antenógenes Silva, ele era conhecido como "O Mago do Acordeon", e
nasceu em Uberaba, e Minhas Gerais, no ano de 1906. Era filho de Olímpio
Jacinto da Silva, serralheiro, ferrador de cavalos e acordeonista, e de Maria
Brasilina de São José. Pelo lado materno, Antenógenes descendia do Barão de
Ponte Alta, que, na altura de seu nascimento, já se encontrava em franca
bancarrota. Por isso, o Antônio Antenógenes frequentou a escolo por apenas dois
anos, e começou a trabalhar muito cedo. Muito cedo também começou a estudar
música, e ainda criança já mexia com o acordeom.
Em 1927, com 21 anos,
Antenógenes mudou-se para Ribeirão Preto, no estado de São Paulo, para
trabalhar como servente de pedreiro. No ano seguinte, na capital paulista,
Antenógenes começou a tocar na Rádio Educadora. Já no ano de 1929, gravou seus
primeiros dois discos na Victor, interpretando o choro como o sensacional nome
de Gostei da Tua Caída, o maxixe Saudade de Uberaba, e mais duas valsas, todas
de sua autoria. Pouco tempo depois, Antenógenes gravou na Orion e na Arte Fone.
Em 1931, casou-se com Marcília Marinari, violonista e locutora, que tinha o
nome artístico de Léa Silva. Em 1933, Antenógenes mudou-se para o Rio de
Janeiro, e a partir daí tornou-se nacionalmente conhecido. Passou a acompanhar grandes
intérpretes brasileiros e, no ano de 1934, fez uma turnê pela Argentina, e
gravou com Carlos Gardel e Libertad Lamarque. Antenógenes Silva foi o primeiro
acordeonista a tocar música erudita no Teatro Nacional do Rio de Janeiro.
Mesmo
tocando muito, era sedento por aperfeiçoamento, e estudou harmonia, solfejo e
orquestração com o maestro Guerra Peixe. Ele chegou a dar aulas para Luiz
Gonzaga na época anterior à grande fama do Rei do Baião. No ano de 1949,
Antenógenes concluiu o curso primário; depois, fez o ginasial em Niterói, e,
não satisfeito, formou-se em química industrial. Em 1957, ele foi vencedor de
um concurso promovido pela fábrica de gaitas Honner, na cidade de Trossingen,
na Alemanha. Nessa ocasião, Antenógenes foi reconhecido como um dos maiores
acordeonistas do mundo. Na mesma viagem, ele ainda se apresentou no
Conservatório de Paris. Dois anos após a volta, ele fundou a Rádio Federal de
Niterói, que ajudou, literalmente, a construir com as próprias mãos.
Antenógenes Silva teve uma extensa discografia, tendo gravado mais de 130
composições de sua autoria, incluindo valsas, tangos, xotes, mazurcas, sambas,
rancheiras e outros ritmos.
Durante muitos anos, ele manteve no Rio de Janeiro
uma escola de acordeom, com cursos de teoria, solfejo e harmonia. E como viver
de música no Brasil sempre foi difícil, mesmo o sujeito sendo fraco como o
Antenógenes Silva, ele sempre manteve uma atividade paralela à vida artística,
como comerciante de queijos. Logo após se graduar em química, ele fundou o
Laboratório Creme Marcília, no Rio de Janeiro, do qual foi diretor-presidente.
Antenógenes Silva faleceu em 2001, no Rio de Janeiro, aos 94 anos, vítima de
insuficiência renal.
Aqui, postamos um LP de 1968 composto por valsas da melhor qualidade.
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